quinta-feira, dezembro 29, 2011

O adeus sem dono

De algum modo o relógio tinha razão
Quando acordei horas depois.
O tempo que é perdido
Estava a um passo de mim.

Eu pertencia a alguma coisa que não conhecia
Ainda que fosse menos vivo.
Quase pude fingir ser outro
Na primeira saudade de mim.

A verdade cresce em nenhum quintal
Enquanto planto sombras sobre o seu silêncio.
No fundo de todos os delírios,
O adeus morre longe de mim.

Leleco.

Semi-sono

Era quase um semi-sono
A lembrança do último amor
Naqueles olhos pintados com melancolia
E no cheiro de flor esmagada.

Fingiu um desejo sonâmbulo,
Beijou com medo de ter esperança
E molhou o arrependimento com tequila.

Aquela ou aquilo
Parecia não haver saída.
Ainda bêbada confessou para a amiga:
"Aquele filho da puta fodeu com a minha vida!"

Leleco.

segunda-feira, dezembro 26, 2011

Ritornelo

A vida toda esqueci
Tudo o que sempre me fez lembrar:
O fim é a porta de outro começo.

Permaneci em silêncio por algum tempo
E não soube dizer o que eu era.
A dúvida carregava o meu inferno
Com um colorido quase cego.

Fazia de conta
Que cada amor era um faz de conta.
Por dentro a melancolia molhava
E não havia ninguém por perto.

Eu só existo onde me perco.

Leleco.

sexta-feira, dezembro 23, 2011

Apocalipse

Eu sabia antes mesmo de pensar
Que a vida é outra coisa
E não esse suor de chuva que não molha.

É o anti-pecado concepcional
Do amor que sofre por amor,
É a solidão abafada no travesseiro
E o câncer espalhado em algum cinzeiro.

É a possível queda num quarto de silêncio,
A falha necessária que não faz falta,
É perder o que não se precisa
E esquecer até aprender a existir.

Morrer dói menos que o parto.

Leleco.

quinta-feira, dezembro 22, 2011

Ausência

Na primeira ausência de mim,
Nenhuma verdade me fazia sentido.
É como um querer quase perdido
Nos retratos que escondem abismos.

Na segunda vez,
A promessa não me bastava.
Comecei a fotografar a falta
E tudo aquilo sem me dizer nada.

Na última ausência,
Já começava a ver o fim, e não sabia.
Por não ser, eu era
A cópia malfeita de meus pais.

Leleco.

segunda-feira, dezembro 19, 2011

Espantalho

Eu continuo inventando qualquer presença
Para encontrar alguma solidão.
Voltei a ter o que eu nunca tive:
Essa coragem de ser covarde.

Espalho espantalhos de espelhos
Onde em mim os outros não enxergam.
Ontem de manhã havia o retrato de uma ausência
Como se não fosse eu a própria revelação.

Aquilo que se vive
Até o fim do que eu não era
É o que morre sem saber de quê.
Poderia a saudade mentir por mim?

Leleco.

quarta-feira, dezembro 14, 2011

Pausa

Aquilo que girou em silêncio,
Fez conjugar um velho verbo transparente.
E o que somos nós
Além do adeus de cada verso?

Sinto partir como quem não chegou
Na solidão que se fez e ninguém reparou.
Saudades de qualquer ontem
À procura de quem o sonhou.

Antes do fim,
A poesia despedida.
E nunca se esqueça
Que é a pausa que nos faz dançar.

Leleco.

sábado, dezembro 03, 2011

Vítima

Escuridão e pó
O sono do sonâmbulo
Seis soldados de chumbo
Disputando o amor da mesma bailarina.

Não serei mais uma vítima da poesia!

Leleco.

quarta-feira, novembro 30, 2011

Catapora

Tudo parecia alguma coisa
E nada fazia sentido.
Inferno invertido
No irreversível domínio da contradição.

Substantivo, adjetivo e pronome indefinido
De nenhum sujeito
Esquecido intacto
No outro lado do seu abraço.

Toda despedida chega ao encontro
Do delírio catapora do louco.
Pintando em teus sentidos
Qualquer saudade vermelha.

Olhares do não dito
Entre as palavras mortas na garganta.
E o que antes parecia mudo,
Agora é amor afogado em mercúrio.

Leleco.

segunda-feira, novembro 28, 2011

Ferida

Antes que alguém saiba que você está morto
Atire dez dúvidas no colo da viúva
E sorria com fúria na porta da funerária.

Antes que ninguém saiba que você está morto
Devolva seus farrapos de nuvens
E me fale do último sono.

O tempo vomita os ponteiros na vida
E no nome que se apaga.
Cada Deus possui o seu Demônio
Quando lambe a própria ferida.

Leleco.

terça-feira, novembro 22, 2011

Porta-estandarte

Deixa eu confessar o medo
Do que vem tarde ou do que vem cedo.
Deixa a minha foto pela metade
Que eu finjo que nunca houve inteiro.

Deixa o amor pensar que não preciso
Essa ausência embaixo do tapete nunca foi abrigo.
Deixa eu inventar aquilo que não minto
Só pra acreditar que consigo.

Deixa a saudade pronta
Na poesia esquecida em suas costas.
Deixa o amanhã amanhecer agora
E pode abrir todas as portas.

Leleco.

segunda-feira, novembro 21, 2011

Lançamento


"Água mole em pedra dura, tanto bate até que vira livro!"

quinta-feira, novembro 17, 2011

Quizumba

São Paulo, oitavo andar.
Quatro, cinco, seis da madrugada.
Eu quero tocar você em lá maior.
Cheiro da falta em mim.
Eu não quero ir.
Aperto o peito enquanto espero.
Eu deveria ter guardado o seu sorriso dentro da garrafa.
Eu conservo o bigode.
Bigodes são antenas.
Parabólica saudade.
Acaso.
Eu caso.
Na Rua Augusta ou em Marte.
Outra dose de conhaque.
Trópico de Capricórnio.
Poesia de manicômio.
Sinuca.
Mordo a nuca.
"Não posso ser sua!"
O que é ser de alguém?
O amanhã é distante.
Qual é a senha?
O amor brincando de Jenga.
Pouco é quase muito.
Bar Puma ou guarda-chuva?
Adeus nunca esteve na moda.
Vai, mas volta...

Leleco.

quarta-feira, novembro 09, 2011

Outras dúvidas

É tudo questão de cegueira?
É tudo questão de néon?
O espelho imitando quem eu não sou
Ou o sapato pisando ao contrário?

O que as coisas querem dizer
Na boca que soma ausência?
Amores de outros amores estranhos para mim
Ou aquele que jamais conheci?

Será o último dia do mundo
Na eternidade enrugada,
No lamento de tantas luas
Ou no suor da minha pele na sua?

Na dúvida ou antes que alguém esqueça
Adoro o seu beijo frio de cerveja.

Leleco.

segunda-feira, outubro 31, 2011

Os sete passos da sombra

O mesmo demônio que queima ao contrário
Convida para as três mortes pagãs do sol.
Encontro o seu Deus na antiga palavra ateu
E em pequenas doses instáveis de perdão.

Línguas de fogo anunciam
O mais novo poeta de gaveta.
Atirando verdades viúvas
Em esquecimentos vazios.

É a escuridão percebendo o dia
Nesse grito surdo de rebeldia.
O futuro derretido no relógio
Enquanto os céus me condenam.

Afundo pensamentos e medos
Em travesseiros de insônia.
Ouçam os sete passos
Da sombra que me chama pelo nome.

Leleco.

quarta-feira, outubro 26, 2011

Acordar

Acordo
Sempre de acordo
Você me beija e eu te mordo.

Leleco.

sexta-feira, outubro 21, 2011

O céu e não o seu

Naquele instante você sorriu
Cinza cor da guimba
E não reparou no verbo venenoso
Que usei pra te conjugar.

Fez o egoísmo morrer de inveja
Daquela velha idéia banguela
De atravessar o tempo
Fingindo qualquer inocência.

Acendeu sete ventos e guardou a chuva
Tentou cortar com os dentes
Aquilo que se despede na chegada
Como a vida gasta na vidraça.

Inventou outro mundo
E ainda procura por ele.
Na saudade além dos dedos
Sou o céu e não o seu
Soluço mais forte que a morte.

Leleco.

terça-feira, outubro 18, 2011

Setenta Minutos no Inferno

O sol que ilumina agora é frio e cor de chumbo
Setenta minutos no inferno
E um resto de pecado num canto da boca.

Rasguei cada salmo
De um livro que nunca li
E interrogo cada sonho murcho
Do cheiro de minha infância.

O tempo reverso de meus reflexos
Espelhados na memória que se perde.
Ausência que já não sinto
Na saudade de minha vida.

Leleco.

sexta-feira, outubro 14, 2011

Abismo de Espelhos

É a tua própria laranja mecânica
Essa camisa-de-força 10mg
Que você engole com vodka
Na necessidade de se esquecer.

O que sabes sobre as traças do meu tempo?

Plantei vômitos em minúsculos banheiros
Desafiando a sósia de minha sombra.
Provavelmente, seria o bastante
Pra demonstrar quem fui.

Agora restou esse dó sustenido
Na coluna febril do meu corpo.
Essa boca seca
Do podre sal de nenhuma saliva
E o seu glaucoma que não enxerga o meu estado de coma.

A poesia não deu em nada!

Carne exposta mal passada, mão na coxa
Sua boca testando meus testículos
Suave orgasmo rouco e nada mais importa
Nem mesmo o desprezo ou piedade.

A poesia não satisfaz!

Coração alheio à incubadora
Aprendiz de solidão
Perca-se nesse abismo de espelhos
Até o escasso branco dos seus cabelos.

A poesia arde o silêncio de sermos reais.

Leleco.

segunda-feira, outubro 10, 2011

Vertebrado

Espinha em espiral
Coluna cervical
Vertebrada fraqueza humana
Enquanto se desgastam os anos.

A verdade vertical contida
Na mentira divina.
Preservando qualquer excesso
De um Deus pelo qual não espero.

Oculto algum sujeito inválido
E equilíbro rimas em suas retinas.
É a vida que se apaga
Depois dos trinta ou antes da despedida.

Fim do primeiro ato.

Leleco.

quarta-feira, outubro 05, 2011

Calibre 38

De tanto caminhar sobre céus
Comecei a remendar tempestades.
O seu sorriso-calibre 38
Não assalta mais a minha saudade.

Diante do seu amor estrangeiro
Quem sou eu sem ser eu?
As migalhas do esquecimento
Alimentando dúvidas de outras eternidades.

Tímido túmulo do silêncio
No abismo morto de seus beijos.
Minha lágrima é gargalhada no espelho
Onde nunca mais seremos os mesmos.

Leleco.

quarta-feira, setembro 28, 2011

Um pouco de quase tudo

Um pouco de quase tudo
É o nunca que se inventa.
Fina mentira vazia
Alimentando o inferno particular dos seus dias.

Descubro hoje o amor que ignorava ontem
Ainda e sempre sutil.
As correntes daquela saudade fantasma
Já não me arrastam mais.

Sinfonia branca do adeus
Na morte dos minutos que colecionei.
Em algum lugar do jardim ou do espaço
Uma flor, uma estrela
Ainda esperam pelo meu abraço.

Leleco.

terça-feira, setembro 20, 2011

Supermercado

A saudade é um rinoceronte bebendo refrigerante
O amor é um cílio grudado no rímel
Sorriso rabiscado no rosto
Toda vez que eu te encontro.

Espirro o medo e arrisco
Entre serpentes marinhas e tormentas
Do mar que é o seu beijo.
A felicidade é uma promoção relâmpago
No supermercado da vida.

Agora vem, volta e não vai embora
Compra passagem só de ida
Diz que fica até o fim dos dias
E me faz sonhar margaridas.

Leleco.

terça-feira, setembro 13, 2011

Poeta ao molho passado

Ingredientes Necessários:

- 1 Leminski salpicado de Alice Ruiz
- Alguns pontos de interrogação
- 4,5 Kg de Brahms
- 300g de sotaque de Drummond
- 50 ml de lágrima de sereia
- 1 amor Shakespeareano
- 1/2 Kubrick crocante
- Pitadas de Art Nouveau
- 1 ou 2 canções preferidas de Miles Davies
- 100g de Roy Lichtenstein
- 1 caneca de Lewis Carroll
- 1/2 livro inacabado de Hemingway
- 3 frases cruas de Oscar Wilde.

Modo de Preparo:

1- Em uma frigideira, aqueça 50 ml de lágrima de sereia e acrescente alguns pontos de interrogação, deixando-os fritar por uns 3 ou 4 minutos. Tempere a gosto e separe.
2- Em uma panela com profundidade, aqueça 1 amor Shakespeareano, acrescente 4,5 Kg de Brahms, 1 caneca de Lewis Carroll, 1/2 Kubrick crocante e 100g de Roy Lichtentein. Deixe cozinhar durante uns 2 ou 3 minutos em fogo médio.
3- Quando o amor Shakespeareano estiver na consistência ideal, acrescente 1 Leminski salpicado de Alice Ruiz, pitadas de Art Nouveau e 300g do sotaque de Drummond. Misture-os com os ingredientes da frigideira de forma cuidadosa.
4- Pouvilhe 1 ou 2 canções preferidas de Miles Davies, 1/2 livro inacabado de Hemingway e estará pronto para servir.

Obs.: O prato poderá acompanhar 3 frases cruas de Oscar Wilde.

Leleco.

sexta-feira, setembro 09, 2011

Triste é não ser

É a força do delírio, do orgasmo feminino
Triste é não ser
Louco ou mulher.

Eu gosto de complicar o complicado,
De experimentar o inesperado
Afogado no pecado
Cada qual com o seu Deus ou com o seu Diabo.

É hora de proibir o proibido,
De falar até ficar calado
Ser mais um fodido
Em busca de trocado.

Leleco.

terça-feira, agosto 30, 2011

Restos

Proibido amor de infinito
Rezando de mãos juntas o pecado.
Um silêncio enxuga as lágrimas de nosss falhas
E esse vazio soprando liberdade.

Cheiro do fim ou gosto de tarde
Essa falta que não arde?
Aquilo que ainda sonho quando acordo
É palavra esquecida em algum canto.

Nas longas noites de adeus
Sempre somos outros:
A ironia no rosto
E o egoísmo nos bolsos.

Leleco.

quinta-feira, agosto 18, 2011

Desordem

Eu quero uma certa desordem
Nas constelações que fomos pelo chão
E nos minutos ruivos de ferrugem
Que morremos em qualquer inferno.

Descubro meus dedos
Em mãos diferentes.
Daquilo que sou
Sem jamais existir.

Ainda planto despedidas
Em jardins dos encontros.
Bocas gastas de palavras
Além da memória que se perde.

Leleco.

quinta-feira, agosto 11, 2011

Cemitério

Grave em minhas mentiras
Greve em meus amores
A ausência entrego ao outro
E me queimo no próprio fogo.

Devoro a febre e cuspo demônios
Uma vida que perco
Nos grãos de cada sonho.

No centro do universo
Ainda carrego cemitérios
De futuros que se apagam
Em poucas palavras.

Um dia ninguém nos lembrará.

Leleco.

quarta-feira, agosto 03, 2011

Quase Deus

Do céu escorre o azul
Enquanto enxugo a noite.
Acendo um fósforo e ilumino o Arpoador
Não há sol mais quente do que eu.

Debaixo da cama,
Escondo estrelas, sapatos e cometas.
Apago a lâmpada
E invento a escuridão, apocalipse e trombetas.

Sobre os mortos do seu tempo
Sou os fios brancos de meus cabelos.
E não há nada que substitua
O sol ou talvez a lua.

Naquele dia, quase pensei seus pensamentos.

Leleco.

segunda-feira, agosto 01, 2011

Xadrez




Há algo estranho nesse cheiro de sombra,
Nessa falta do que fomos ontem,
Em nossos esquecimentos
De um todo para tantos divididos.

Onde nunca ganhei em meus tabuleiros?
Maravilha é o país de Alice, não o meu!
Amantes florindo grávidas de passado
Na barriga do tempo futuro.

Sei que vivo em xeque-mate
Nos seus lábios de vírgulas afogadas
Por aquele beijo ausência
Que perdi em minhas lágrimas.

Leleco.

sexta-feira, julho 22, 2011

Amnésia

Tão amanhã
Partir como quem nunca nasceu.
Teus antigos donos de razões prisioneiras
Encaram o olhar do Diabo
Ou apenas o meu?

Tão mortal
Esse gosto de viver
Entre tantos dias intermináveis.
E nem de leve desperta
O sentido do infinito despetalado.

Tão repleto de azul
Arrisco o vôo e insisto na queda.
Por dentro o mundo engarrafa
No correr dos corredores.

Daquilo que existirá
Sou o eco sem memória.

Leleco.

quinta-feira, julho 21, 2011

Das obrigações de saudade

Enxugo algumas chamas
E chamo por nuvens.
Apelo de um abismo
Em obrigações de saudade.

Afogo meu nome
No avesso de sua identidade
E na perna quebrada de minha sombra
Que caminha entre fantasmas.

Enterro o tempo reverso
De um velho deus desenterrado.
O silêncio entre o verbo partir e a frase
É vela que chora e não se revela.

Leleco.

quinta-feira, julho 14, 2011

Sobre o silêncio

Dessa vida vadia só restou
Esse jeito disfarçado de existir.
Dos amores que dobram em mim
Sou os passos que partiram sem voltar.

Alongo algumas insônias
E alugo os meus sonhos.
Sobe e desce os vidros do quarto
Sobre o silêncio feito imagem.

Pulsos atados pela dúvida
Na beira da madrugada.
Alimento delírios líquidos
Em frente ao espelho amarrotado.

Saudade do tempo em que meus olhos foram brasa.

Leleco.

segunda-feira, julho 11, 2011

Aquilo quase alma

Assim vive o inverso do que se diz
E todo mundo diz a mesma coisa
Penso, logo invento
E não escuto ninguém.

Volto a ser o que fui
Na condenação da minha rotina.
O nada imagina memórias esquecidas
Antes do fim do dia.

Arrasto qualquer vontade conversível de amar
Nos três espelhos que não pareço.
Algum inferno aquece aquilo quase alma
Enquanto queimo no pecado das palavras.

Leleco.

terça-feira, julho 05, 2011

Gaiola

É quase manhã
Na gaiola do tempo
E eu ainda nem sei se é falta ou saudade
Esse vazio de vidro a se quebrar por dentro.

Estou tomando algum sentido.

Um sorriso
Tão rico e não me pertence.
O próximo,
Cada vez mais distante.

Doce de abóbora
Sapato e gravata
Carne assada
Aprendi a odiar.

Estou pensando em casar.

Invento o último andar
Nuvens são girafas
Giro a garrafa e é uma vida que perco
Derramada no álcool.

Estou tentando ser imortal.

Leleco.

quarta-feira, junho 29, 2011

Rebeldia de Linguagem

O tic-tac do relógio
No tum-tum do coração.
Ping-pong e pinga em mim
O zigue-zague da solidão.

Ah, esse amor em rebeldia de linguagem...

Leleco.

Deixa

Deixa que o meu poema
Não tenha solução nem problema.
Assim como os mortos
Ainda vivem em suas idéias.

Deixa que eu rasgue o vento
No acaso esquecido do tempo
E se eu nunca mais regressar
Sou chuva sobre o mar.

Deixa que a noite naufrague
No amor em que sou tarde.
O adeus do último sono
Antes que a insônia acabe.

Leleco.

sexta-feira, junho 24, 2011

Bumerangue




Sei que é tempo de chegada
Do amor de um século qualquer.
Eu tenho o céu nos olhos,
A vida entre os dedos
E um sorriso queimado de som.

Eu tenho um abraço que abrigam casas
Pra você desfazer suas malas
E vestir a saudade de nunca mais.
Venha inventar caminhos em meus cabelos
Relógios e paredes
Não ferem mais o tempo.

Enquanto o dia se descobre
Adormeço burocraticamente em seu peito.
Passos pisam de leve essa areia
Do mar que nos levará além.

"Te faço um filho, te dou outra vida pra te mostrar quem sou..."

Leleco. (Para Débora)

terça-feira, junho 21, 2011

Bactéria

Eu vou escrever um bolero-bactéria
Pra infectar o seu silêncio
Com a canção do meu corpo frágil.
Alfinetar o próprio voodoo
Num ritual orgiástico das oferendas.

Evapora leve no ar
A modernidade, helicópteros e haxixe.
Enquanto notícias de minha carne
Escorrem em bocas médicas.

Bêbadas bruxas e suas misturas antibióticas
Servidas no café-da-manhã
Sustentam algum lirismo e prolongam a distância
Entre o desespero e o vazio.

Apodreço em mim mesmo
Ignorando os abutres do tempo.
Apago o nome da memória
E permaneço com o cheiro de minha infância.

Leleco.

sexta-feira, junho 17, 2011

Alerta Geral

Poesia virou emprego, salário e jornalzinho da PUC
Rimando abacate com avestruz
Pra impressionar menininha no facebook.
Com esse ar "pós-moderno",
O máximo que conseguirá é que o diabo lhe carregue.

Esse é o meu alerta geral:
Ser poeta é ir além,
Amar e viver como tal
E não apenas quando convém.

Leleco.

segunda-feira, junho 13, 2011

Monocromático Amor

Agora é hora de descolorir o amor:
Casas e cascos fechados em ti.
Correto e reto pra entortar a dois.
Trincos e trintas no tempo acorrentado em mim.

Limpos e lavados sonhos
Sepultados nos sertões de minha insônia.
O rosto inventado pelo espelho
Bebendo sede na angústia do depois.

Escudos e escamas de outras redes
Nas águas rasas de minhas lágrimas.
Ensaiei, inutilmente, a morte quase vinte vezes
Em bêbadas manhãs mal-dormidas de domingo.

Até pra morrer é preciso estar vivo!

Leleco.

quinta-feira, junho 09, 2011

Santa Paciência

Tornei a saudade cinza
Para que o amor produzisse o relâmpago.
Tenho um sorriso enfeitado
De dez poemas roubados.

Em mim criei o silêncio
Refletido na distância que mastigo.
E que venha a tempestade
Na palavra sem ser dita.

Se sou o soluço do relógio
É porque vivo deste morrer de espera sem fim.
Oh, Santa Paciência
Rogai por mim!

Leleco.

terça-feira, junho 07, 2011

Vulcão

Enterrei a idéia que ninguém lembra
Nos corredores de minha cabeça.
Acordei sonhando transparências
Antes da cor do meio-dia.

Arrastei o tempo morto
Pelas esquinas onde sou suicida.
Restou esse eco oco de coisa alguma
Em promessas novas de futuro.

Inventei alucinações semiloucas suas
Pra dissolver qualquer vazio da razão.
E o meu corpo ausência implora
Pela sua febre morna de vulcão.

Leleco.

quarta-feira, maio 25, 2011

Esgoto

Há tantas noites de outras noites
Na febre de meus demônios,
Na sua língua salivante-réptil
E no sufocante rosto pálido.

Há tantos búzios e Cabalas
Na vontade conversível dos desencontros,
Na arma carregada de futuro
E na carne devorada no estupro.

Há tantos vazios viúvos
Na loucura sambando na ponta do punhal,
Nas juras de amor mal-cheirosas
E nos fantasmas de minha mente-quintal.

É preciso inventar novos deuses neuróticos!

Leleco.

terça-feira, maio 24, 2011

Desencapado

Esqueleto do tempo
Despencando corpos no quarto inquieto.
Eu era um pouco da tua falta
No espaço vazio do meu abraço.
Sobrou apenas o seu esmalte descascado
Atravessando minhas costas.

E os fios desencapados de seus cabelos
Ainda queimam o travesseiro.

Leleco.

terça-feira, maio 17, 2011

Evils

Eu me dissolvo
Na ausência de chão.
Eu me abandono em você
E no domingo de seus pijamas.

Vestindo Copacabana disfarço solidão
Na crônica infiel da liberdade inútil.
Ateei fogo aos seus cabelos
Que é a cor que eu tenho agora.

Sou o mais original ao dormir
Sem a culpa que achei no lixo
"It`s now or never"
Cantou Elvis na camiseta sua.

Leleco.

sábado, maio 14, 2011

Esquizo

Boca roxa frouxa de uva sua
Suficiente para ficar louca.
Abelha mel melancolia
Do pólen saudade poesia.

Seu anti-Cuba, Coca-Cola choca
Sorriso cretino de Fidel
Fidelidade recheada com desgosto
Comunismo incomum invoca.

Seu hálito de zinco
Isótopos brincos oxidados
Abanando o ar da noite
Na perna nua da prostituta.

Seu delírio e xamanismo urbano
Esfaqueando o outono pelas costas.
Esquizo esquimó à porta do hospício
Bate o tambor em rítmo suicida.

Leleco.

sábado, maio 07, 2011

O Uivo

O tempo se esgota
Na tempestade rouca do mundo.
Cidade cemitério em festa
Margaridas negras devoram góticos.

Saudade atravessando relógios
Atlântico Samba-Ars antiqua
Metralhando em mim polifonia,
Poesia e possessão.

A vida no meu calcanhar
E o que restou do soluço?
Onze borboletas em meu telhado de lágrimas
Apenas eu!
Talvez ateu.
Já não há adeus.

O uivo condenado da alma
Minúsculo e quase nada
Vestindo o invisível peso da solidão.

Leleco.

quarta-feira, maio 04, 2011

Nota de Falecimento

É com pesar que comunicamos o falecimento do poeta Leleco, trinta e poucos anos, ocorrido na madrugada desta quarta-feira, vítima de saudade aguda. Leleco era bastante desconhecido no meio, se especializou em relacionamentos efêmeros; porém, nunca publicou um livro.

Seu corpo foi encontrado pelas ruas de nossa cidade, na condição de indigente. Ao lado do corpo, haviam cinco poemas de Vladimir Maiakovski, uma garrafa de whisky vazia e a foto amassada de uma mulher. Lamentamos o ocorrido e oferecemos aos familiares e amigos nossas condolências.

Equipe Blogspot.

segunda-feira, maio 02, 2011

En Avant



Sempre em frente
Amor atrofiado
Enquanto a vida descobre
Que o tempo mergulha em sinfonia branca.

Depois, silêncio.
- Vazio burocrático da saudade -
É preciso seguir
Antes que transborde a chuva fina
Ou talvez meus versos.

Restou apenas
Essa bomba-relógio no bolso
Aprisionando o infinito.
Poderia ter sido ontem.
Poderá ser amanhã.

Continue caminhando...

Leleco.

* Foto: Débora Furtado/ Lyon, 2011.

quinta-feira, abril 28, 2011

Caleidoscópio



Quem sabe alguém me espere
Entre teus cabelos soltos,
No silêncio bíblico da heresia
Ou quando eu não mais existir.

Quem sabe alguém me encontre
No teu vestido de noiva,
Na neblina mofada da noite
Ou quando eu não mais resistir.

Quem sabe alguém me esqueça
Na solidão de cada existência,
Na culpa do que não fomos
Ou quando eu não mais fingir.

Quem sabe você me volte
No casulo de teus abraços,
No caleidoscópio assimétrico do nosso amor
Ou quando eu não mais desistir.

Leleco.

* Foto: Débora Furtado/ Paris, 2011.

terça-feira, abril 26, 2011

Âncora

Após muito lhe esperar,
Eu era a própria falta
Da memória onde eu não lembrava.
Depois, deixei além
Aquele ontem confuso.

Algo de nós permanece no chão do tempo
Quem sabe seja eu esse mar sem nuvens
Enrolado em seus braços.

Aqueço aquilo que sonhamos
Nos passos que voltam sós.
O céu sobe a minha saudade
E a chuva imagina a nova causa.

Leleco.

segunda-feira, abril 18, 2011

Véspera

Hoje é véspera de mim
E eu com essa cara de anteontem
Cuspindo a baba histérica do delírio
De nenhuma loucura.

Haja Deus e tantos Saturnos
Pra esse pobre coração soturno.
Não há tempo a perder
Quando é tempo de se perder.

Eu sou a orgia exagerada
Que molha a sua calcinha
Com medo de se afogar.
O vento vinha vinho em mim
E acordo ao seu lado
Embrulhado em plástico-bolha.

Beber e soluçar ressacas
Antes do fim do dia
Enquanto enrolo minha vida
No sabor menta de sua língua.

Leleco.

sexta-feira, abril 08, 2011

Abeille

Ah, essa velha abelha
No meu calcanhar.
Despetalando dúvidas
E divorciando saudade.

Eu mudo.
Eu me mudo.
Por debaixo das palavras,
Isso seria quase nada
Se não fosse quase tudo.

Aqui ausente de ti
É uma loucura tão infame
Desafiar o futuro soprando incertezas.

Abeille, je t'aime!

Leleco.

Fagulha




Inventei uma palavra oleosa
Para não escorregar
Nos olhos líquidos
Das vidraças míopes.

E você precisou sumir
E foi.
Por dentro a vida envelheceu
E não era o último dia do mundo.

Tudo acabou ficando úmido
No verso do silêncio
Enquanto minha insônia
Sonha com amor nenhum.

Ante o que fui,
Descubro o que sol
Apagado num sorriso quase febril,
Observo a alma secar no varal.

"Come on baby, light my fire..."

Leleco.

quinta-feira, março 31, 2011

Contém Álcool

Falta
Mata
Um
E existe
O que nunca foi
E sinto
Como sempre
Morro só por hoje.

Acordo caduco
Melancolia de menino
Cuspindo entulho
Liberdade que se aprende
Na tinta fresca do muro.

Poucas moedas moídas
Desequilibrando minhas pernas
Esmolo poemas
Verdades que são minhas
E não me sabes.

A volta
Há volta?
Desajeitado tempo ninguém
Envelhecido pelo álcool
Angústia absurda
E ela disse: "- Poeta é tudo filho da puta!"

Leleco.

terça-feira, março 29, 2011

Sábado de Aleluia

A carne vai sobrando
No prato vivo que não mastigo.
Guardo o sol longe do corpo
E lá fora, afogo o que ainda será fogo.

Esquisito é o meu implorar pelo frio
Ardendo almas e traumas
Da loucura do outro,
Na falta de sono
Do sonho que vai vencer.

Eu não me salvei
Dos litros de delírios que salivei.
E ofereço a saudade do que fui
Para Judas no sábado de aleluia.

Leleco.

sexta-feira, março 25, 2011

Vermelho pode ser violeta

O amor veste um amargo bordeaux
E vem me cobrar impostos.
É que desconheço a tal mistura
Da uva espremida na garrafa de vinho.

Quase cinza, sorri para o fogo
E todos me condenaram.
Ninguém me reconhece mais
Pareço até ser quem nunca morri.

Sopro baforadas de barulho
No silêncio intelectual dos ignorantes.
Esse acúmulo verde dos olhos
Na cegueira vermelha dos amantes.

Eu menti sobre mim,
Sou um ninguém chamado saudade.
Você sabe bem o que eu sempre quis:
Recitar poemas em cardápios de bar.

Naquele dia, você havia misturado
Vermelho com vinho perolado.

Leleco.

sexta-feira, março 11, 2011

Sommeil artificiel (O outro lado)

Dorme em mim
Assim, de leve.
Dorme aqui
Sonhando telas de Dalí.

Dorme, menina
A saudade asfixia
E nenhum ansiolítico
É melhor que o meu peito.

O mundo é pequeno
Entre o mito e o medo.
Ninguém chora o meu silêncio
Na palma da sua mão vazia.

Ah, esse sono de verão
No desprezo do inverno.
Tantos aquários da imaginação
Na solidão do travesseiro.

Leleco.

quarta-feira, março 02, 2011

Cólica

Traí
Distraí
Embriagado no tapete
Catando anjos microscópicos
Nas caixas do céu.

O cérebro procurando uma brecha
No universo, na lucidez
Ou além das vogais amassadas
De uma nota no obituário.

Ah, esse perfume velho da noite
Panfletando vagalumes inquietos
Na boca arreganhada
De algum Orixá.

Sufoco o riso e me dói o miocárdio
Sempre começo pelo fim
Por isso, nunca caso.
Trezentos dias
Em seus cabelos espalhados pela cama.

A melancolia e o sonho,
Caminham sobre lâminas.
Na cólica da virgem
O poeta se alimenta.

Leleco.

terça-feira, março 01, 2011

Bule Blue



Bule blue
Café e cafuné
Doce é o açucareiro,
Diabético é o amor.

Faca tramontina
Pão e requeijão
Saliva de menina
Às nove da matina.

No verso do envelope
Um demônio familiar.
Vontade de tossir um cigarro
Pra afastar mau-olhado.

Há bons dias esquecidos pela agonia
Depois de amanhã, serei o agora
Esvaziando o ontem
Na três por quatro da fotografia.

Leleco.

quinta-feira, fevereiro 17, 2011

L` hospice de Charenton

Aqui jaz
O amor lilás
Na ausência ardente das horas.

Tudo foi um mal-entendido
Entre o poeta e o divino.
A agonia de seus demônios
Nesse céu sombra azul.

Sobra-me um episódio de saudade
Da literatura suja de Marquês de Sade
Derramando em mim
O gosto pela eternidade.

Leleco. (Para Donatien Alphonse François de Sade)

quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Cigarrilhas

Poesia embrulhada em papel de bala
Perfume de palavra suja
Deus esvaziou o mundo
E no meu cinzeiro,
Ainda moram algumas cigarras.

Desenho Kandinsky em suas coxas
Enquanto a ressaca me bebe as horas.
Ingênuo gênio pornográfico
Na monogamia da traição.

Tudo agora é outro parêntese
Você sorri lábios enquanto pinta as unhas
Eu te faço o jantar
E falo sobre a incerteza do fogão.

Leleco.

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

A Valsa do Mendigo (Pedido de Casamento)

Me lave, meu love.
Me leve de leve
No doce mistério.
Silêncio poeira
Desfilando pervertidas pernas atrevidas
Na menina namoradeira.

Esfomeado corpo revolto
Parte, portas e portos.
Suspiro quase rouco
Em olhos de aeroporto.

Sempre pouca certeza nos bolsos
De algum velho amor novo.
Acendendo a mesma estrela
Em qualquer manhã amarela.

Melhor suor derretido em mim,
Abandonai a espera
E dance comigo
A valsa do mendigo.

Leleco.

sábado, janeiro 15, 2011

Sem dono

Arrepiei idéias
Entre cabelos soltos.
Tanto amor e agonia
Nesse agora incerto.

Esse olhar sem dono
Varre a noite confusa
Entre putas despetaladas
Na eternidade que não fomos.

A palavra sem ser dita,
A boca sem beijo
Chorando em silêncio
O adeus da margarida.

Leleco.

terça-feira, janeiro 11, 2011

A Febre

Mente mentirosa minha
Embaralhando loucuras
Sonhadas pelos mortos.

Retorna a febre e meus demônios
Na garrafa que antecede a solidão.
O tempo para que tarde
No chorar de choro antigo.

Estranha espera de abrigo
Por alguém que não existe
Ou que não verei nascer
No sorriso esquecido em mim.

Leleco.

segunda-feira, janeiro 10, 2011

A Balada do Enforcado



Onze décimos de intervalo
Entre a mão que me segura e a queda.
Naufragado na neblina
Dos delírios de minhas esquinas.

O espelho e minhas interrogações
Arranhados pelo ontem.
Restou Rimbaud em mim
Vivendo e sendo a própria poesia.

Anotei silêncios em noites amassadas
Refletindo um pálido verde olho.
Por amor ou por desgosto
Permaneço enforcado pelo oposto.

Leleco.

sábado, janeiro 08, 2011

Loteria

Como havia em mim
O tal do amor,
Preferi me calar.

Esclareço, ao menos,
O preço da saudade.
Não há estupidez sem recompensa
Arrisco, fico e não desisto.

Vai, vem e volta
Enquanto dormem quilômetros.
De música e de sobra
A vida se renova.

Leleco.