sexta-feira, janeiro 27, 2012

Carnival

Agora eu só queria desfilar
Esquecido na semi-vírgula da serpentina.
Na fome dos mortos,
Ser mais um canibal de carnaval.

Carne-seca do meu tamborim
No pecado de mim mesmo.
Aquela alegria quase tímida
Exposta na Avenida Central.

Pouco a pouco
Eu era quase o resto
Da fantasia que já não existia.
Vagando meus vagalumes
Em venenos 220 volts.

O amor em vão
No chão entre confetes.
Sua alma sumiu na esquina
Antes de nascer o dia.

Leleco.

terça-feira, janeiro 24, 2012

Retrovisores

Os espelhos, são muitos.
São outros.
São raros.
E o quanto cabe de meu rosto?

O ontem amanhece com algum esforço
E qual é o agora que preciso?
Esqueço que sou um retrovisor apenas vivo
Aprisionado no corpo que me assusta.

Molhei palavras da boca
Em restos de nenhum incêndio.
E o seu olhar de lacunas
Nunca carbonizou o meu pretérito perfeito.

Leleco.

terça-feira, janeiro 17, 2012

Ilusão de Ótica

O pecado é o que me torna santo
E sou o mesmo de sempre quando sou outro.
Pensei o que já havia pensado
Sobre o que sempre escondi nos retratos.
O que queria aquilo que nunca fui?

Talvez ainda acordem palavras de vidro
Esquecidas na cegueira além dos olhos.
Por enquanto, estou inventando qualquer miragem clandestina
Para refletir minhas interrogações.

Não se via no fundo o foco
Quando cada um era único.
Somos o espelho rachado
De um Deus pálido.

Leleco.

quinta-feira, janeiro 12, 2012

Vidraças

O amor armou aos tropeços
Essa saudade amarrotada.
A imaginação ainda é mais pesada que o ar
Quando penso em quase nada.

Todo passado é o reflexo de mil vidraças mofadas
E sem saber, eu já sabia
Que só a realidade pode ser delicada.

Entre um andar e outro,
O espelho rouba e não devolve
Tudo que envelheceu pelo caminho.

Eu era ao longe
O primeiro fim do meu próprio começo.
Outro silêncio grisalho
No rosto que invento.

Leleco.

sábado, janeiro 07, 2012

Aliança

Tentei explicar a vírgula de sobrancelhas franzidas
Antes de suspirar o último olhar
Com a malícia de um amante.

Como o amor era antes,
Eu não sei ou nunca soube
Até descobrir a falta do que aconteceu
A um passo de mim.

Era quase ano novo no retrato dos noivos
E o amanhã devia ser o próprio hoje.
De repente, não havia espaço
Para mais ninguém ao nosso lado.

Leleco.

sexta-feira, janeiro 06, 2012

Epilepsia

Enquanto não digo nada, o silêncio flutua inquieto
E ela insiste em canções epiléticas.
Qual é a outra versão da próxima verdade?
É melhor engolir o mundo e mudar de assunto.

O novo é quase indeciso e sem contorno
A cada dia que o antigo se alonga.
Ouço a queda e mordo
O adeus morno de nenhum outro.

O inferno é um paraíso
Quando quero morrer sem encontrar ninguém.
Aprisionado pela poesia
De um todo para tantos esquecidos.

Leleco.