quarta-feira, março 28, 2012

Ceviche

Ao redor da cabeça
A loucura proíbe o meu pensar.
Calor do céu de avião
Queimando na boca do fogão.

Quantas vezes preciso morrer agora
Até envelhecer novamente?
"É uma vida de se comer com os dentes"
Ela dizia fritando palavras no azeite.

Na mesa de jantar,
O silêncio cristão no prato de ceviche
Enquanto a pimenta ardia
O amor e o inferno de cada dia.

Leleco.

quarta-feira, março 21, 2012

Hospício

Transpirei pirei transparências
Na noite de teu hospício.
Enxuguei relâmpagos indecisos
Enquanto a vida passa precipício.

Há dias em que adio tudo
De sono a qualquer mergulho.
Águia água cai em meus olhos
No samba-cósmico da geléia-canção.

Engasguei alguns sonhos
Anunciando a poesia devastada por fumaça
É ali que começo a morrer para a palavra.

Estou definitivamente esquecido.

Leleco.

quarta-feira, março 14, 2012

Aquilo que eu era sozinho

Quem nunca morreu não sabe
O fim daquilo que eu não era
Ou a mentira de que vivo.

Arrisquei quase nada
Como quem pisa no paralelepípedo
Fingindo ser abismo.

Escorreguei distraído
Em olhos que não reconheciam
Aquele corpo de coisa alguma
Envelhecido no pedaço de vidro.

O resto era o risco
De ser aquilo que eu era sozinho.

Leleco.

segunda-feira, março 12, 2012

De tudo que lhe dei para amar

Breve greve de seus grampos
Espelha o que se espalha
Contra tudo o que penso
Com ou sem nenhum acento.

Volta torta sobre rodas
Faz do amor um nó de corda
Sorrindo carinhos cariados
Como quem não precisa aceitar a saudade.

Poeira pia poesia
Enquanto pensava alto e não percebia
O despertador resistir ao tempo
E ainda não era dia.

Leleco.

terça-feira, março 06, 2012

Qualquer outro

É tudo questão de circo, circuito e coito
O medo que tenho das cores.
Chove chumbo Pernambuco
Pelé de todos os santos.

Eu morto de preguiça
Do novo soul americano.
Sal, céu e Cruzeiro do Sul
Baba profana de boi Zebu.

Tudo desde sempre
Sem nunca antes ter havido
A imagem refletida da própria vida
Amassada pela poesia aflita.

Esquecido em meu e em mim
Sou qualquer outro
Que nunca vejo.

Leleco.