quarta-feira, maio 25, 2011

Esgoto

Há tantas noites de outras noites
Na febre de meus demônios,
Na sua língua salivante-réptil
E no sufocante rosto pálido.

Há tantos búzios e Cabalas
Na vontade conversível dos desencontros,
Na arma carregada de futuro
E na carne devorada no estupro.

Há tantos vazios viúvos
Na loucura sambando na ponta do punhal,
Nas juras de amor mal-cheirosas
E nos fantasmas de minha mente-quintal.

É preciso inventar novos deuses neuróticos!

Leleco.

terça-feira, maio 24, 2011

Desencapado

Esqueleto do tempo
Despencando corpos no quarto inquieto.
Eu era um pouco da tua falta
No espaço vazio do meu abraço.
Sobrou apenas o seu esmalte descascado
Atravessando minhas costas.

E os fios desencapados de seus cabelos
Ainda queimam o travesseiro.

Leleco.

terça-feira, maio 17, 2011

Evils

Eu me dissolvo
Na ausência de chão.
Eu me abandono em você
E no domingo de seus pijamas.

Vestindo Copacabana disfarço solidão
Na crônica infiel da liberdade inútil.
Ateei fogo aos seus cabelos
Que é a cor que eu tenho agora.

Sou o mais original ao dormir
Sem a culpa que achei no lixo
"It`s now or never"
Cantou Elvis na camiseta sua.

Leleco.

sábado, maio 14, 2011

Esquizo

Boca roxa frouxa de uva sua
Suficiente para ficar louca.
Abelha mel melancolia
Do pólen saudade poesia.

Seu anti-Cuba, Coca-Cola choca
Sorriso cretino de Fidel
Fidelidade recheada com desgosto
Comunismo incomum invoca.

Seu hálito de zinco
Isótopos brincos oxidados
Abanando o ar da noite
Na perna nua da prostituta.

Seu delírio e xamanismo urbano
Esfaqueando o outono pelas costas.
Esquizo esquimó à porta do hospício
Bate o tambor em rítmo suicida.

Leleco.

sábado, maio 07, 2011

O Uivo

O tempo se esgota
Na tempestade rouca do mundo.
Cidade cemitério em festa
Margaridas negras devoram góticos.

Saudade atravessando relógios
Atlântico Samba-Ars antiqua
Metralhando em mim polifonia,
Poesia e possessão.

A vida no meu calcanhar
E o que restou do soluço?
Onze borboletas em meu telhado de lágrimas
Apenas eu!
Talvez ateu.
Já não há adeus.

O uivo condenado da alma
Minúsculo e quase nada
Vestindo o invisível peso da solidão.

Leleco.

quarta-feira, maio 04, 2011

Nota de Falecimento

É com pesar que comunicamos o falecimento do poeta Leleco, trinta e poucos anos, ocorrido na madrugada desta quarta-feira, vítima de saudade aguda. Leleco era bastante desconhecido no meio, se especializou em relacionamentos efêmeros; porém, nunca publicou um livro.

Seu corpo foi encontrado pelas ruas de nossa cidade, na condição de indigente. Ao lado do corpo, haviam cinco poemas de Vladimir Maiakovski, uma garrafa de whisky vazia e a foto amassada de uma mulher. Lamentamos o ocorrido e oferecemos aos familiares e amigos nossas condolências.

Equipe Blogspot.

segunda-feira, maio 02, 2011

En Avant



Sempre em frente
Amor atrofiado
Enquanto a vida descobre
Que o tempo mergulha em sinfonia branca.

Depois, silêncio.
- Vazio burocrático da saudade -
É preciso seguir
Antes que transborde a chuva fina
Ou talvez meus versos.

Restou apenas
Essa bomba-relógio no bolso
Aprisionando o infinito.
Poderia ter sido ontem.
Poderá ser amanhã.

Continue caminhando...

Leleco.

* Foto: Débora Furtado/ Lyon, 2011.