quarta-feira, setembro 29, 2010

Nem tudo que gira é sol

Engatilhei silêncio
E atirei vogais.
Nem tudo que gira é sol
Nos jardins de mim.

O céu me condena em seu azul
E nada é tão certo
Diante do soluço das horas
Quando esqueço que sou só.

Preservo qualquer excesso
Alimentando um sorriso sem jeito.
Hoje confuso
Na saudade de acender meus delírios noturnos.

Leleco.

domingo, setembro 26, 2010

Apenas eu

Bebeu e rodopiou sua insônia
Gritando de um jeito estranho: "C`est la vie!"
E chorou no quintal dos esquecidos.

Em luzes de sombra
Procurou por passos
Ou algum sentido que a faça existir.

Vestiu a saudade de tudo
Na avenida dos desencontros
E quase remendou o seu surto.

Inventou sorrisos
E não se reconheceu.
Era o tempo culpado
Ou apenas eu?

Leleco.

sexta-feira, setembro 10, 2010

Chansons de la peur

Era o mesmo homem sentado diante da vida. Nada parecia ter mudado após trinta anos. Falava de amor em línguas estranhas, desafiando o falso saber da juventude. Virou a última página do desejo e riu de si mesmo sem nenhum sentido. Pagou o alto preço de ser escritor.

Anotou num papel pequeno que nem todo sexo é cristão e fingiu esquecê-lo no banco da igreja. Ingenuidade geminiana daquele homem em acreditar que só se morre uma vez. Prometeu parar de fumar e começar uma dieta na semana que vem. Algumas pessoas precisam, realmente, acreditar nisso.Esqueceu como se escreve 500 em algarismo romano e pensou:“- Que diabos está havendo comigo?” Dirigiu sem usar a marcha ré, sentiu frio embaixo do sol, lembrou do seu filho e como chorou. E quis voltar a pé.

Inventou a fraqueza só pra se sentir mais forte e assim continuou... Acendeu alguns amores e quase casou com a solidão. Bebeu pra espantar a timidez e como cantou. Percebeu os olhares e alguns adjetivos, mas ganhou um delicado beijo na testa.

Tentou dormir, tudo rodou, quis vomitar e pensou: “Será que amanhã vai chover?”


Leleco.

quarta-feira, setembro 08, 2010

Avesso

A partir de agora,
Serei de mim a parte que restou.
O ar irrespirável do lado de fora
Nas primeiras horas da vida.

Modernas maravilhas antigas
Exibem no avesso do hermafrodita
A neblina apagada de sua rebeldia.
Ainda posso contrariar a teimosia fingindo esperança?

Nada pior que esse incômodo neurônio
Acordado às quatro da manhã
Embranquecendo meus cabelos
E cochilando os meus sonhos.

Leleco.