quinta-feira, dezembro 23, 2010

Senhora Solidão

Senhora Solidão,
Conceda-me o prazer dessa dança
Que mata o tempo lentamente
Em algum olhar indiferente.

Senhora Solidão,
Esvaziei o mundo, a cabeça, a garrafa
E não encontrei nenhuma novidade.
O que ainda devo absorver enquanto me conservo?

Senhora Solidão,
A vida ficou surda
Diante do Evangelho de Judas.
A saudade se refugiou na loucura?

Por que não? - diz algum Deus.
Caminho entre túmulos que sonharam como eu.

Leleco.

quarta-feira, dezembro 15, 2010

Máscara

Agora chove chopp em mim
E água no asfalto.
Sinto falta de embriagar
As horas em você.

Cara máscara sobre o rosto
No desenho do outro em mim.
Cem mil reticências
Para chegar a algum Deus.

Logo eu,
Esse ateu convertido a enchofre
Enganando o próprio Diabo.
Tagarela bebida que não cala
Na poesia reduzida ao nada.

A França cansa meus neurônios,
Enquanto nada arrisco.
Brilha uma pequena lágrima
E ninguém tem nada a ver com isso.

Leleco.

sexta-feira, dezembro 10, 2010

O Avesso do Inverso

Entre a dúvida e a certeza,
Cinco gritos morreram na garganta
No segundo que descobri o medo.

Corro pra fugir da tristeza
Que ainda chove em mim.
Pisando em falso
Em cannabis, jardins e Jesus
Numa louca procissão.

As curvas desdobram minha realidade,
Fazendo recortes nesse quebra-cabeça.
As chamas iluminam o meio-fio
Enquanto aperto no abraço um discreto vazio.

Eu não valho nada e sou ninguém.
Como qualquer poeta menor
Que carrega a difícil arte de existir.

No avesso do inverso,
Está o segredo do meu universo.

Leleco.

quarta-feira, dezembro 08, 2010

Homendigo

Homendigo
Por que escreves versos para analfabetos?
A sua loucura é tão invisível
Quanto o seu amor.

Homendigo
Por que esmolas por frágeis rimas?
Poesia não enche barriga,
Nem mil palavras matam a sede da saliva.

Homendigo
Por que insiste vestir sentimentos usados?
Ninguém pode notar
Eles estão muito ocupados para "twittar".

Leleco.

quarta-feira, dezembro 01, 2010

Curativo

O verão é outro inverno em mim.
E nesses dias do nunca mais,
Saudade que o vento traz.

Eu mudo junto com a temperatura,
Eu moldo planos moídos
E mastigo qualquer motivo
Na monotonia desse sol sem sal.

Eu compro enganos do último ano
Só para afastar dezembro de meus medos.
Continuo ardendo vícios com alguns adjetivos
No tempo que é quase curativo.

E foi por um Tico...

Leleco.

quinta-feira, novembro 25, 2010

Porta-Retrato

Desço aos infernos
Traficando poemas de Drummond.
Algum rosto se ilumina com o fogo
Queimando um sorriso indeciso.

Ninguém tem culpa da vida
Que guardei nos porta-retratos
Enquanto outro dia rasga o seu azul
No céu de novidades.

E me resta esse olhar inquieto,
Fingindo poeta.
Apodrecendo qualquer imagem
Em rebeldia de linguagem.

Leleco.

segunda-feira, novembro 22, 2010

O Outro

Uns nos outros
Uns dos outros
Alguns perdidos
Outros cada vez mais raros.

Multiplico almas
E o que resta de mim nos outros?
Apenas um eu
Entre tantos esquecidos.

A pressa do meu fim
No espelho que o outro observa.
E quando eu for ontem
Que outro recordará?

Leleco.

quinta-feira, novembro 18, 2010

Denise, gostava de meninas

Era São Paulo. Noite fria e chuvosa.
Após meia-noite, fui varrido junto com outros bêbados para fora do bar.
"-Ordens do prefeito", ele disse.
Implorei pela quarta dose de vodka (era preciso espantar o frio).
"-Tudo bem, mas vá beber do outro lado da rua", disse o garçom.
Sou resgatado por duas amigas de um amigo num carro preto. Uma era psiquiatra, a outra não sei (ou não lembro).
Fui parar no loft da psiquiatra e sou recebido por um cachorro.
Ela diz: "Ele só entende inglês!"
Pensei, segurando o copo plástico com vodka: "Que diabos estou fazendo aqui? Desde quando cachorro sabe línguas?" Mas preferi me calar...
A psiquiatra estica duas fileiras de pó sobre a mesa enquanto enrola uma nota de vinte reais.
"- Vocês querem?"
"- Não gosto de farinha. Só uso do preto!" - respondo.
"- Ah, tem aqui também!" (A outra mulher vai buscar o baseado enquanto a psiquiatra enfia o nariz no pó).
Era só uma ponta. Acendo assim mesmo e o saboreio (e quase queimo o nariz).
Em seguida, invento uma desculpa e vou embora do loft. Subo, novamente, a Rua Augusta à procura de uma balada rock`n`roll.
Encontro uma chamada : "Astronete". Rockzinho bacana e não estava muito cheio o lugar.
Neste momento, já estou completamente alcoolizado e levemente sob efeito da erva.
Subo numa cadeira, levanto uma cerveja e grito junto com a canção "I wanna be sedated!"
Na fila do banheiro, encontro Denise. Mulher com um sorriso bonito e simpática. Pergunto se o banheiro é coletivo. Ela responde que sim e percebe que eu não sou dali.
"-Você é carioca?", ela pergunta.
"- Sou e não sou!"- respondo.
"- Como assim?"
"- O Rio é minha mulher e Minas é a minha mãe!"
Conversamos por mais alguns minutos e ao ser perguntado o que eu faço, respondo que sou poeta.
Denise pede que eu faça uma poesia para ela.
Respondo que só faço caso ela me convença que merece.
Denise agarra uma menina e arranca um beijo interminável, enquanto eu observo.
Quando elas se afastam, Denise pergunta:
"- E aí, convenci?"
"- Posso mijar antes de você?" - respondo.
Já são mais de quatro da manhã e resolvo ir embora. Desço a Rua Augusta ao encontro do carro.
Ao passar em frente a um puteiro, sou convencido pelo segurança a entrar.
"-Vinte reais + quatro cervejas!", ele diz.
"-Você merece a tal poesia!", respondo.
E entro no puteiro. O lugar é bem escuro e tosco. As putas são horrorosas, algumas faziam apresentações de Pole Dance e outras conversavam com alguns "clientes".
Uma se aproxima e pergunta:
"-Você gostou da dança?"
Digo que sim.
"-Você é do Rio?"
Penso: "- Que merda, todo mundo me pergunta isso!" e balanço a cabeça afirmando.
Ela se afasta ao perceber que eu não queria nada além de observar.
Eu acompanho algumas apresentações das putas penduradas num poste tomando as cervejas que eu tinha direito.
Acendo um cigarro com uma delas e converso banalidades da vida. Enquanto uma outra, que se encontrava drogada, tentava me agredir com palavras. Já eram quase seis da manhã.
Saio de lá com uma única certeza: "Que falta me faz o Rio!"
Volto pra casa e durmo.
Amanhã não se sabe...

Leleco. (Para Henry Charles Bukowski)

terça-feira, novembro 09, 2010

Em órbita

Um dia em Saturno
Só eu e você
Sem gregos e troianos
Se não agora, quando?

Um mês em Marte
Simone de Beauvoir e Sartre
Amores necessários e contingentes
Ou qualquer coisa que ainda seja existente.

Uma semana em Mercúrio
O tempo curando as feridas
Uma canção band-aid
Assoprando a própria mordida.

Leleco.

sexta-feira, outubro 29, 2010

Agora que passa

Doçuras e delírios
Onde o tempo se confunde
Na vida que envelhece em meu rosto.

Os horizontes de onde vim,
Já não são tão belos
Quanto a saudade do agora que passa.

Eu não sei mais o que escolher
Entre a idéia e a falta.
No último gole dessa cachaça
A lua soletra o medo do torto poder ser reto também
Afinal, "libertas quae sera tamen".

Leleco.

quinta-feira, outubro 07, 2010

(Amar)go

Queimo delírios
Na agonia vertical da vida.
Enfeito enganos no chão que me espanta
Dos que partem sem voltar.

A loucura é curva sem cura!
Onde não dormi meu último sono?
Há bueiros e bucetas respirando desespero
No sol que é solidão.

O nada imagina o não ser
E derrete a dúvida em mim
Da rotina que atrai a rotina
E envelhece a poesia.

Qualquer coisa acontece
Sobre o nunca que se inventa
E a certeza da hora marcada
No silêncio de minhas palavras.

Leleco.

terça-feira, outubro 05, 2010

(Es)trago

(Es)trago a pessoa amada em seis meses.
Esse é o meu dom!
Insatisfação garantida ou o seu sorriso de volta!
Quer experimentar?

Longe de feliz para sempre
Cai a noite e o esquecimento
E agora você sabe
Que minhas asas esfarrapadas
Nunca foram de anjo.

Leleco.

quarta-feira, setembro 29, 2010

Nem tudo que gira é sol

Engatilhei silêncio
E atirei vogais.
Nem tudo que gira é sol
Nos jardins de mim.

O céu me condena em seu azul
E nada é tão certo
Diante do soluço das horas
Quando esqueço que sou só.

Preservo qualquer excesso
Alimentando um sorriso sem jeito.
Hoje confuso
Na saudade de acender meus delírios noturnos.

Leleco.

domingo, setembro 26, 2010

Apenas eu

Bebeu e rodopiou sua insônia
Gritando de um jeito estranho: "C`est la vie!"
E chorou no quintal dos esquecidos.

Em luzes de sombra
Procurou por passos
Ou algum sentido que a faça existir.

Vestiu a saudade de tudo
Na avenida dos desencontros
E quase remendou o seu surto.

Inventou sorrisos
E não se reconheceu.
Era o tempo culpado
Ou apenas eu?

Leleco.

sexta-feira, setembro 10, 2010

Chansons de la peur

Era o mesmo homem sentado diante da vida. Nada parecia ter mudado após trinta anos. Falava de amor em línguas estranhas, desafiando o falso saber da juventude. Virou a última página do desejo e riu de si mesmo sem nenhum sentido. Pagou o alto preço de ser escritor.

Anotou num papel pequeno que nem todo sexo é cristão e fingiu esquecê-lo no banco da igreja. Ingenuidade geminiana daquele homem em acreditar que só se morre uma vez. Prometeu parar de fumar e começar uma dieta na semana que vem. Algumas pessoas precisam, realmente, acreditar nisso.Esqueceu como se escreve 500 em algarismo romano e pensou:“- Que diabos está havendo comigo?” Dirigiu sem usar a marcha ré, sentiu frio embaixo do sol, lembrou do seu filho e como chorou. E quis voltar a pé.

Inventou a fraqueza só pra se sentir mais forte e assim continuou... Acendeu alguns amores e quase casou com a solidão. Bebeu pra espantar a timidez e como cantou. Percebeu os olhares e alguns adjetivos, mas ganhou um delicado beijo na testa.

Tentou dormir, tudo rodou, quis vomitar e pensou: “Será que amanhã vai chover?”


Leleco.

quarta-feira, setembro 08, 2010

Avesso

A partir de agora,
Serei de mim a parte que restou.
O ar irrespirável do lado de fora
Nas primeiras horas da vida.

Modernas maravilhas antigas
Exibem no avesso do hermafrodita
A neblina apagada de sua rebeldia.
Ainda posso contrariar a teimosia fingindo esperança?

Nada pior que esse incômodo neurônio
Acordado às quatro da manhã
Embranquecendo meus cabelos
E cochilando os meus sonhos.

Leleco.

segunda-feira, agosto 30, 2010

A idade do nunca mais

Na ponta da ponte,
Aponto meus prantos.
Impotente inconsciente
Na dúvida do desencontro.

Traço o que fui
E durmo além da agonia de nascer palavra
No mais imenso dos riscos.
Sete amores amargos
No aroma que anuncia a partida.

Estranhamente, devoro o passado que o diabo amassou
E acordo abraçando as cinco pontas.
Depois dos trinta,
Disfarço a insegurança e o medo
No espelho que revela a idade do nunca mais.

Leleco.

sexta-feira, agosto 20, 2010

Um homem chamado Ninguém

Eu não vou escrever nada
Além do que você já sabe ou deveria.
Eu não uso loção pós-barba
Aliás, eu nem faço mais a barba.
Calculo o amor pela ausência
E cada qual se encontra só em sua suficiência.

Eu não acredito em Deus nem no Diabo
E eles também não devem acreditar em mim.
Duvido quase sempre do que penso
Afinal, existo, logo penso.

Derramo vinho no meu ex-tômago
Armo a bomba!
E tudo queima dentro de mim.
Você ainda quer que eu sorria
E ofereça alegria?

Leia o meu silêncio, finalmente, bem educado
Todo psicólogo é psicologicamente pertubado.
Eu não creio em santos e sábios,
Só confio na palavra simples e pura da puta.
Antes de morrer,
Toda sabedoria é nula.

Respingo verdades quando convém,
Engano o vazio alimentando um bêbado equilíbrio,
Esqueço e sou esquecido pela banalidade coletiva.
Todo mundo diz a mesma coisa:
"Poesia não vale um vintém!"

Leleco.

sexta-feira, agosto 13, 2010

Insetos Incertos

Incansáveis vagalumes de ontem
Por que ainda escurecem minha poesia?
Eu grito percevejos do eco
Diante desse espelho do absurdo.

Aqui, ausente de tudo,
Arrasto o tempo por descuido
E espero alguma esperança
Já que estou face a face com Deus
Vendo que sempre tive razão.

Exijo a urgência da vida
Sufocando a mim mesmo
E desafio qualquer mosquito
A compôr uma sinfonia em meu ouvido.
(Pode ser Bach, pode ser Gonzagão)

Conservo meus pecados
Na falta de pesticida.
Decifro o sorriso dos insetos insanos
E lá se foi mais um ano...

Leleco.

terça-feira, agosto 10, 2010

Invisível

Um vale o outro
Dos quais só um
Abandona o outro lado.
Vinte segundos virado ao avesso
E me torno vários.

Alguém aceita o meu buquê de neurônios?
Ao que tudo indica,
Continuo vivo nesse corpo escorregadio.
Desvio vadio do equilíbrio
Nas quedas que eu não arrisco.

Agora pareço um quadro qualquer de Renoir
No meio desse silêncio branco
Querendo ser tudo e aceitando não ser nada.
Esquecido na poesia não lida de suas virgens filhas
Ah, como eu queria ter escrito a Bíblia...

Leleco.

sexta-feira, agosto 06, 2010

A Mariana que me encanta



Durante toda a minha existência, esperei libertar borboletas no aquário. Hoje é o dia! Hojé é o dia dela! Hoje é o dia M.! Mariana, Margarida, Marga-linda... a invenção da vida carrega consigo uma sutileza em cada sorriso.
Provo, pela contraprova, que o amor produz por si próprio uma vontade infinita de sentidos. O tempo não pára, mas resistir é preciso! Já dançamos em pontas de cigarros, bebemos litros de saudade, construímos pontes e estradas que nos levaram para a cama.
Mariana ama, canta e encanta cada fração do meu dia. É o meu pensamento constante, luxo e lixo de minha poesia. Mariana é a busca incansável e apaixonada do que é ser e que se define justamente pelo encontro da força que escorre do seu olhar.
Depois dela, nada será novo. Arrisco ao máximo a felicidade, abandono tudo o que me dá segurança e mergulho nesse desconhecido. Mariana é o meu novo a cada linha, a cada beijo e a cada simplicidade com que reinventa nosso início a cada manhã.
Então, é tudo contra nada!
Trata-se de uma outra vida, e ela me devolve a velha juventude indestrutível.
Deixai florir espartilhos, aventuras, canções, poesia, casa, estrelas, filhos e migalha.
Afinal, o amor não volta para pedir razão.

Feliz Aniversário, Mariana!
Amo-te completamente!
Daqui até depois do sempre!

Leleco.

terça-feira, agosto 03, 2010

A gosto da leoa


No sete que se completam dezenove,
Nada deve permanecer imóvel.
Outro nome em outros batismos
No teu mar de Agosto.

As sobras do tempo e a vida crua
Deslizando pelo teto empoeirado do Empório.
Entre Marte e Mercúrio,
Mergulho no gim todo o meu orgulho.

O eu do meu bem,
Anjo decaído de uma fé cega
Plantando e implantando
Sorriso em pedra.

Viva nossa geografia
No azul céu do lençól.
Dormindo o amor em meu sonho
No mês do cachorro-louco.

Acordo cantando baixinho:
"Gosto muito de te ver, leãozinho..."

Leleco.

quarta-feira, julho 28, 2010

11:56 pm de um futuro qualquer

O amor absolve ou condena
A distância que a balança equilibra?
Tantas rotas quase roucas
Do tempo que é solidão.

As paredes soluçando o infinito
Desde o fim até o princípio.
Pelas mortes que morri,
Deus precisa de mim para existir.

Um luto nos relógios
Pra esquivar essa insônia.
Tinta que não chora nunca
No verso prisioneiro de sua crônica.

Era apenas eu embaixo do seu lençól?

Leleco.

terça-feira, julho 27, 2010

Tempo são

Pílula
Pupila
Cada um
Todos
Aquilo
Outros.

De repente
É preciso
Grito ruído
Venta
E ninguém lamenta.

Desordem
Dilúvio
Delírio por delícia.
Mímica mistura de mim
Isso não é doença
Todo capeta toca punheta.

Tempo são
Substantivos
Substância em solução.
Não vivo sem
O que o fogo mantém.

No fundo flutua
A solidão da puta
Antes de tudo
Ignoro os atributos.

Vagabundo poeta
Atira palavras, nunca pedra.
E diante da idéia
O bêbado repete La bella.

Vaso vazio
Casaco de frio
Amor de margarida
Ninguém duvida.

Leleco.

segunda-feira, julho 19, 2010

Melhor que cem

Um faz viver o outro
E faz renascer no outro
A antiga definição do amor.

Acima de toda esperança,
Encontro o futuro
Na certeza do beijo.
E no coração, meu bem
Não cabe mais ninguém.

Dobro a falta
Nesse nó de nós dois
(Meio-caminho entre a presença e a ausência).
Vento silencioso do abraço
Na despedida dos meus passos.

Desfio a vida
E repouso sobre sua barriga.
É, pouca gente sabe, meu bem
Que um grande amor é melhor que cem.

Leleco.

terça-feira, julho 06, 2010

Bendito



Três vezes bendito
Como se silêncio fosse
Trocar o dito pelo não-dito.

Pedro pescando modernidades
Na divina festa dos homens.
Despertando o riso dos deuses
Escondidos no bolso do padre.

Ela se estica
E tudo estala nos corredores de minha cabeça.
Descubro a mulher de minhas mil vidas
Entre a tontura e a ressaca.

A saudade que corta
É a aliança da próxima estação.
Bendito seja nosso delírio!

Leleco.

quarta-feira, junho 30, 2010

Ontem

Parece que foi ontem
O tempo solto no seu sorriso
E que eu tão distraído
Pedi duas cervejas e um mojito.

Parece que foi ontem
O seu jeito de andar pisando em nuvens
Entre tantos pés indecisos.

Parece que foi ontem
Distâncias e margaridas
Somando estrelas espremidas
No céu de minha cama.

Parece que foi ontem
O amor rasgando nossa boca
E eu traduzindo o Moska.

Parece que foi ontem
Aquela saudade sem eira nem beira
Pelo simples fato
Que hoje ainda é quarta-feira.

Leleco.

quinta-feira, junho 24, 2010

O Papagaio do Analista

Acordei sustenido
Suspenso pelo cansaço
Daquela velha fuga em sol menor
Que nunca fez sentido.

Afoguei verdades
No ventre de tua mãe
E ainda me faltam abrigos.
Calei a palavra repetida
Pelo chato papagaio do analista.

Esmaguei a cabeça
Em alguns pensamentos
Para lembrar quem eu fui.
Pode ser a minha cruz
Ou qualquer cruzamento.

Esqueci no meu corpo
O desequilíbrio da certeza.
Enganei a mim mesmo
Acompanhado de uma indispensável fraqueza.

Leleco.

quarta-feira, junho 16, 2010

Batata Frita


Comecei a engarrafar
Nuvens, almas e deuses.
Alimentei com beijos
As estrelas do céu, do mar e do pulso.
E, bem no fundo,
Toda loucura debocha do absurdo.

Algo ama além de nós dois
Nesse sorriso infinito
Que dobra em mim
Ou na palavra de vidro
Que invento pra existir.

Acordei transformado em saudade
E andei com cuidado
Enquanto a vida corria lá fora.
Olhei para o espelho e pensei:
" - O amor é uma batata frita roubada!".

Leleco.

terça-feira, junho 08, 2010

Insônia no mato, me mata.

Piso no seu passo
E o tédio queima no meu dedo.
Restou a sombra
Que você esqueceu na cama
E algumas manchas.
Abracei o frio só pra distrair um sorriso
E fingi ser meu vício.

Toda insônia é infiel
No meu vadio sono.
Abandono o silêncio dos ruídos
Na fuligem dos famintos.

Não há dúvida na despedida
Nem na ferrugem dessa poesia.
A saudade rouba e não devolve
A noite que engoliu o dia.

Leleco.

sexta-feira, junho 04, 2010

Um chopp com Chopin

Cada nota musical
É uma bolha de sabão
E haja Chopin pra tanta imaginação.
Tudo é desconhecido e belo
Quando morro de novo.

Pão de queijo com cerveja
Nem sempre combina tão bem
Quanto o seu beijo molhado.
Fui saudade, sou amor
Na tarde cinza que o tempo inventou.

Nariz gelado geleira geladeira
Na neve da despedida.
Nossa vontade escorrendo dos cabelos
E debruçando nas retinas.

Case-se comigo
Enquanto ainda é fácil sustentar algum lirismo.

Leleco.

segunda-feira, maio 31, 2010

Constelação

Anoiteceu
E nenhum Ogum apareceu.
Rodam raios e nada arrisca
Aquele homem artista.

Diamantes e rubis
No carnaval do Arlequim.
O silêncio do não ser
Na gritaria em mim.

Deus é tão ateu quanto eu
Quando bebe o tempo lentamente
E mata na garganta
A melancolia de qualquer poesia.

Cantigas de ninar
Antes que o futuro
Não se deixe mais amar.
Sombras de sim
No céu de tanto não.

Herdei da vida essa tal constelação.

Leleco.

sexta-feira, maio 28, 2010

Privada



Acordei tarde demais
Pra sentir quem eu fui.
Afogado na ressaca dos que bebem
A solidão das paredes.

Aquele que recolhe almas
Também desmaia estrelas pelo escuro
Do cinza em que me deito
Na infinita tinta do muro.

Um frio fino rasga o meu torto sorriso
Tudo é colorido e misturado com álcool.
Depois e antes
A privada se tornou a minha amante.

Leleco.

quarta-feira, maio 26, 2010

A saudade é um ovo mexido (mini-poema de amor)

Agora eu existo
No verso mastigado de nenhum artista.
Alguém gira a minha vida
E tudo parece
Ovo mexido e poesia.

Da esquerda para a direita,
O relógio marca o nascimento e o fim.
Antiga repetição monótona
Da saudade em mim.

O amor feito de tempo
Atravessa o espaço até você.
Entre e além da cama
Permaneço devorando o tédio da semana.

Leleco.

sexta-feira, maio 21, 2010

Emotional Hardcore


Nada nos livros
Ou em lugar nenhum.
Tudo agora é mentira!
Afinal, o que devo entender por verdade?

Na hora certa,
Deus não suportará o silêncio dos poetas.
É melhor assim!
E que horas são?

Quanto mais eu corro risco,
Mais me afasto do perigo.
Quem se importa
Se a imbecilidade tornou-se moda?
Esqueça as minhas paranóias
E enfie no cú essa nova Geração Coca-Cola!

Leleco.

terça-feira, maio 18, 2010

Eu-líquido

A chuva nasceu no meu quintal
E molha o meu coração suburbano.
O medo treme de frio
Do amor que afogou o meu Rio.

Os retratos voltaram a sorrir
Enquanto a goteira
Pinga beijos em minha boca,
Gastando o meu silêncio
E moldando o seu corpo.

Lavei e limpei a alma
Nas águas que espalham outras águas.
A solidão escorre pelo ralo
Junto com a sujeira que navega pelo asfalto.

"Nadando contra a corrente
Só pra exercitar?"
Cazuza não sabia que nandando contra
A gente pode se encontrar.

L.Eco

domingo, maio 16, 2010

Nem tão santa é a minha Teresa

Comecei a me arrancar
E tudo que cai não é mais antigo.
Guardo em mim essa nova flor
Crescendo em nossos netos, meu amor.

Aluguei a felicidade só pra você
Hidratar o meu coração,
Sorrindo sua tímida tinta dos lábios
E a palavra sem ser dita.

Como se algo pudesse ser dito
Além dos olhos de cachaça, chopp e choro.
Vamos vivendo assim
Entre a ausência e o que há de vir.

E descemos as nuvens de concreto
Pendurados no cometa...

Leandro ou Leleco.

sexta-feira, maio 14, 2010

Na moldura (Para Leleco)


Qual é o gosto do gostoso?
Onde a sede e a fome se tornam banquete?
Invento as loucuras mais incertas
No vazio de mim.
O céu se lança ao mar desnudo
Tudo é tempo, templo, túmulo.

São os minutos moleques
Acelerando os ponteiros
Na moldura dos meus trinta e um.
O que ainda faz parte do que restou?

O silêncio de um domingo no ouvido?
O medo lento do meu nada?
Ou a dança do átomo?
Agora e na hora exata
Esse mesmo intenso imaginar.

Sempre quero mais!
Onde estou que não me encontro
Na voz do eco
Sagrado e profano
Chamado Leleco?

Leandro.

domingo, maio 09, 2010

602 só a dois

Eu sou a alegria dilatada,
O amor e seu inverso.
Esparramado na cama
Devorado pelo sexo.

Acende o desejo
E apaga o medo.
Tudo o que a gente quis
E você repetindo: "- Lê, só se vive por um triz!"

Suor e sangue entre nós
Exatamente virginais.
O sorriso e o gemido acordando o Catete
Ah, eu te amo muito pra cacete!

Leleco.

domingo, maio 02, 2010

Um dia em Guaratiba (Para Mariana)


Eu e Ela
Vivemos de brisa,
Ardemos em brasa esse amor.
A luz nos olhos,
Olhos em mim.
A sede da saliva e cerveja
Na minha boca
Dizendo que sim mais tarde
E isso ainda não é nem a metade.

Nesse aquário,
Todo mar é nosso!
Você me jura a felicidade
Na canção ao meu ouvido
Fecho os olhos e desafio o infinito.

Cutuco o gato
E atravesso o dia
Pensando na foto, na família
Na Pedrita e no Pier.

E já é quase madrugada em Pedra de Guaratiba.

Leleco.

quinta-feira, abril 29, 2010

A Distância

Distância.
A última palavra permanece em mim
Na noite dos que nunca partiram.
O agora caminha pelo meu futuro
Molhado de estrelas.

Acordo o infinito
Para que o amor possa nascer.
Sopro de leve a poeira
Do meu coração-poesia esquecido.

Tanto faz isso ou aquilo
No nosso sorriso vadio
É apenas o silêncio
Derretido no abraço do tempo.

Leleco.

domingo, abril 25, 2010

A lucidez de Lúcifer

Acordo sempre lúcido
Na boca de Lúcifer.
Compreender não é aceitar
De onde vim ou pra onde vou.

O inglês dos ricos
É o dialeto dos pobres
Essa é a única mentira verdadeira.
De ontem até amanhã
Tudo pode ser o contrário.

Volto a ser quem eu fui
No momento da morte.
Jogue os búzios,
Leia a minha sorte!
É a velha loteria da vida:
A agonia do recém-nascido
Contra a própria sina.

Leleco.

sábado, abril 24, 2010

O amor é azul e não cor do céu

O amor é azul
E não cor do céu
Mergulho em você
Ou numa chuva qualquer.

O tempo marca o silêncio no olhar
Tudo é vontade
Na imensa saudade do beijo.

Risco o ar
E quase me esqueço
Do verbo que inventei
Pra te conquistar.

Uma pedra e uma ilha,
Uma estrela em cada corpo
E o que escolhemos para um mundo só nosso.

Sempre,
A vida se renova.

Leleco.

sexta-feira, abril 16, 2010

Um dia branco

O amor se abre
Vestido de branco em algum banco
Ou no olhar de soluço
Enquanto gira o mundo.

A moça que passa
Canta baixinho White Stripes
E deixa pingar sorrisos
Sonhando com o seu "anjo".

Pintou as unhas de céu
Pra não se atrasar na volta.
A noite embranqueceu o dia
E desejou o meu beijo no beijo seu.

Leleco.

quarta-feira, abril 14, 2010

Do Esquecimento

Tudo começa por nada
A mentira e a verdade
E reconheço o que sinto
Quando a vida cobra os seus riscos.

Faltas e defeitos do novo
No olhar de meu espelho.
Estico palavras no ar seco
E desconfio de mim.

Três vezes duvidei da certeza
Com a melancolia dos imortais.
Arranhei pesadelos
Em amores sonhados reais.

O adeus pertence a quem?
Enxugo o suor de minha voz
E atravesso o invisível
Sem pensar em nós.

Leleco.

sábado, abril 10, 2010

Love me do

Vem pra mim
Com estrela no pulso,
Primavera nas mãos
E encontre em mim
Aquilo que procura.

Derreta esse medo amargo
Navegar é preciso!
Leve o meu sorriso
E deixe seus suspiros.

A notícia já espalhou de rua em rua:
"Ela ama um desconhecido".
Minha distância na sua
Acendendo o infinito.

Ah, é uma velha canção dos Beatles.

Leleco.

Biruta (Para F.)

Bebeu a birita
E ficou biruta.
Achou que podia voar
E esqueceu que chão não é mar.

Vermelho vinho proibido
Esparramado no azulejo
Um gosto de vazio
E a cabeça rachada no espelho.

Acendeu um cigarro
E quase chorou.
Prometeu nunca mais misturar
Vodka com estabilizante de humor.

Leleco.

quinta-feira, abril 08, 2010

Interditado



Algumas horas depois,
O tempo recomeça.
Cheio de sono, sal e sorriso.
Todo mundo lembra que esqueceu
A chuva, choro e ruído.

Armadura ou armação
Aquilo que invento?
Amores e misérias
Nos boatos que espalham-se ao vento.

Eu grito pedaços de vidas coloridas
Na distância desse amor impraticável.
A cidade dorme seus vícios
Em você tão indecifrável.

Agora vou somar silêncio
Nesse apartamento.
O vazio repetição
Onde interditaram meus sentimentos.

Leleco.

quinta-feira, abril 01, 2010

Margarida

Veja, margarida
Como é engraçada a vida
Eu daqui, você de lá
Na mesma sintonia.

Olha, margarida
As avenidas do meu jardim,
As cores secretas
E o cheiro de alecrim.

Ai, margarida
O amor apaga a rotina
Vestido de poeta
No riso da menina.

Leleco.

quarta-feira, março 17, 2010

Inutilmente

Ontem choveu
Gotas de sol
Em mim
Em nós
Em tudo.

Entre o tédio e o luto
Algo além do confuso
Anuncia inutilmente
Aquilo que não fomos.

Ah, esse amor torto
É pior parado do que tonto
E por muito pouco
Eu não acabo louco.

Leleco.

quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Socorro

Socorro!
Só corro em repouso.
Desvio do soco
Nú ou vestido de noivo?

De novo
A fumaça se transformou em sonho
Sorriu dentes de ouro
E arrepiou os ossos.

Tanto faz gêmeos, virgem ou capricórnio
O importante é o fogo.
Porque o resto eu resolvo
E levo a saudade no bolso.

Leleco.

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Simpatia nem sempre é amor


Cortou com os dentes
O fim da minha linha.
Prendeu a cor
Em meus delírios.
Tropeçou pelos becos e botecos
As minhas poesias
E quase chorou minhas mentiras.

Bastava ser outro naquele carnaval
Ao sorrir de leve
Num calor de quarenta graus
Fantasiado de febre
Pra alguém se queimar.

Assassinou os minutos
Em minha barba
Tão falhada quanto seus esmaltes
E ainda assim
Fingiu ser minha máscara.

Roeu o meu sono
Antes do relógio marcar às três.
Falou sobre Madame Satã
E beijo sem sabor.
Foi embora e sussurrou:
"-Simpatia nem sempre é amor".

Leleco.

quarta-feira, janeiro 06, 2010

Envelhecer é engordar a morte!

Algumas palavras e um trago
Pra ver o estrago
Que restou em mim.
Pelo chão do nunca mais
Dormem caminhos
E cospem ancestrais.

Ignoro o além céu
E ainda sou eu
Nas horas que morro em sua vida.
Todas as partidas sem chegadas
Plantadas sobre o silêncio
De minha rebeldia.

Sinto saudades
Do tempo que fui lembrança,
Envelhecendo a infância
E inventando a eternidade.

Leleco.