terça-feira, maio 29, 2012

Aborto

Descobri depois do soluço
O vômito violento do vento
Cortando cortinas cardíacas
Do mesmo outro eu caduco.

Dúvida daltônica desiludida
Em copos cínicos de cianureto
Afogado na salvação divina
E confinado no próprio medo.

Nada esconde o ontem
Abortando o futuro
Antes que cedo ou tarde
Tudo se torne repetido.

A ausência é uma abertura para além.

Leleco.

quinta-feira, maio 17, 2012

Verme

Era um quase nada o que já não era eu
Enterrado vivo do outro lado da frase fria.
Alguma coisa parecia feita de poesia
Na palavra cortada da boca que morria.

Acordei como quem não dorme
- Vadia covardia minha -
Ao redor apenas havia
Nossa sombra soluçando o dia.

Outro ontem derramado a teus pés
Ânsia fúria afundada na lembrança
Ilumina cemitérios em festa
Enquanto o verme devora o que resta.

Leleco.

sexta-feira, maio 11, 2012

Pass

Passa ou Fica?
Eu,
Pacífico.

Leleco.

segunda-feira, maio 07, 2012

Mentolado

Onde deixei o beijo que nunca dei?
Eu já quase não gosto
Do gosto rouco escondido no seu rosto.

Passa pássaro cinza luz de cineasta
E você descartando o amor em canastra.
Fossa funda de qualquer buraco
Na lágrima atrás do retrato.

Até onde lembro
A sua mentira escondia um sabor menta.
Débil beleza de donzela
Enquanto eu só quero comer com coentro.

Desafio rugas rindo do próprio ridículo
A revista Veja não viu o meu último livro.
Sou esquecido naquilo tudo que não tem fim
E você diz que existir não depende só de mim.

Leleco.

quarta-feira, maio 02, 2012

Tumor

Ainda por não entender
Permaneci pisando em reticências.
Todo poema é letra morta
Sem a culpa do suicídio.

Era aquele Deus anêmico
Tão disposto a não ver defeito exposto
Que alimentava em mim nenhuma fé?

Esqueça o que eu disse sobre o ontem
É hora de desmentir o futuro.
Descubro o grito antes do susto
Na boca seca pela sede
De água cor do afogado.

Somos o tumor do tempo.

Leleco.