quinta-feira, dezembro 23, 2010

Senhora Solidão

Senhora Solidão,
Conceda-me o prazer dessa dança
Que mata o tempo lentamente
Em algum olhar indiferente.

Senhora Solidão,
Esvaziei o mundo, a cabeça, a garrafa
E não encontrei nenhuma novidade.
O que ainda devo absorver enquanto me conservo?

Senhora Solidão,
A vida ficou surda
Diante do Evangelho de Judas.
A saudade se refugiou na loucura?

Por que não? - diz algum Deus.
Caminho entre túmulos que sonharam como eu.

Leleco.

quarta-feira, dezembro 15, 2010

Máscara

Agora chove chopp em mim
E água no asfalto.
Sinto falta de embriagar
As horas em você.

Cara máscara sobre o rosto
No desenho do outro em mim.
Cem mil reticências
Para chegar a algum Deus.

Logo eu,
Esse ateu convertido a enchofre
Enganando o próprio Diabo.
Tagarela bebida que não cala
Na poesia reduzida ao nada.

A França cansa meus neurônios,
Enquanto nada arrisco.
Brilha uma pequena lágrima
E ninguém tem nada a ver com isso.

Leleco.

sexta-feira, dezembro 10, 2010

O Avesso do Inverso

Entre a dúvida e a certeza,
Cinco gritos morreram na garganta
No segundo que descobri o medo.

Corro pra fugir da tristeza
Que ainda chove em mim.
Pisando em falso
Em cannabis, jardins e Jesus
Numa louca procissão.

As curvas desdobram minha realidade,
Fazendo recortes nesse quebra-cabeça.
As chamas iluminam o meio-fio
Enquanto aperto no abraço um discreto vazio.

Eu não valho nada e sou ninguém.
Como qualquer poeta menor
Que carrega a difícil arte de existir.

No avesso do inverso,
Está o segredo do meu universo.

Leleco.

quarta-feira, dezembro 08, 2010

Homendigo

Homendigo
Por que escreves versos para analfabetos?
A sua loucura é tão invisível
Quanto o seu amor.

Homendigo
Por que esmolas por frágeis rimas?
Poesia não enche barriga,
Nem mil palavras matam a sede da saliva.

Homendigo
Por que insiste vestir sentimentos usados?
Ninguém pode notar
Eles estão muito ocupados para "twittar".

Leleco.

quarta-feira, dezembro 01, 2010

Curativo

O verão é outro inverno em mim.
E nesses dias do nunca mais,
Saudade que o vento traz.

Eu mudo junto com a temperatura,
Eu moldo planos moídos
E mastigo qualquer motivo
Na monotonia desse sol sem sal.

Eu compro enganos do último ano
Só para afastar dezembro de meus medos.
Continuo ardendo vícios com alguns adjetivos
No tempo que é quase curativo.

E foi por um Tico...

Leleco.