quarta-feira, junho 29, 2011

Rebeldia de Linguagem

O tic-tac do relógio
No tum-tum do coração.
Ping-pong e pinga em mim
O zigue-zague da solidão.

Ah, esse amor em rebeldia de linguagem...

Leleco.

Deixa

Deixa que o meu poema
Não tenha solução nem problema.
Assim como os mortos
Ainda vivem em suas idéias.

Deixa que eu rasgue o vento
No acaso esquecido do tempo
E se eu nunca mais regressar
Sou chuva sobre o mar.

Deixa que a noite naufrague
No amor em que sou tarde.
O adeus do último sono
Antes que a insônia acabe.

Leleco.

sexta-feira, junho 24, 2011

Bumerangue




Sei que é tempo de chegada
Do amor de um século qualquer.
Eu tenho o céu nos olhos,
A vida entre os dedos
E um sorriso queimado de som.

Eu tenho um abraço que abrigam casas
Pra você desfazer suas malas
E vestir a saudade de nunca mais.
Venha inventar caminhos em meus cabelos
Relógios e paredes
Não ferem mais o tempo.

Enquanto o dia se descobre
Adormeço burocraticamente em seu peito.
Passos pisam de leve essa areia
Do mar que nos levará além.

"Te faço um filho, te dou outra vida pra te mostrar quem sou..."

Leleco. (Para Débora)

terça-feira, junho 21, 2011

Bactéria

Eu vou escrever um bolero-bactéria
Pra infectar o seu silêncio
Com a canção do meu corpo frágil.
Alfinetar o próprio voodoo
Num ritual orgiástico das oferendas.

Evapora leve no ar
A modernidade, helicópteros e haxixe.
Enquanto notícias de minha carne
Escorrem em bocas médicas.

Bêbadas bruxas e suas misturas antibióticas
Servidas no café-da-manhã
Sustentam algum lirismo e prolongam a distância
Entre o desespero e o vazio.

Apodreço em mim mesmo
Ignorando os abutres do tempo.
Apago o nome da memória
E permaneço com o cheiro de minha infância.

Leleco.

sexta-feira, junho 17, 2011

Alerta Geral

Poesia virou emprego, salário e jornalzinho da PUC
Rimando abacate com avestruz
Pra impressionar menininha no facebook.
Com esse ar "pós-moderno",
O máximo que conseguirá é que o diabo lhe carregue.

Esse é o meu alerta geral:
Ser poeta é ir além,
Amar e viver como tal
E não apenas quando convém.

Leleco.

segunda-feira, junho 13, 2011

Monocromático Amor

Agora é hora de descolorir o amor:
Casas e cascos fechados em ti.
Correto e reto pra entortar a dois.
Trincos e trintas no tempo acorrentado em mim.

Limpos e lavados sonhos
Sepultados nos sertões de minha insônia.
O rosto inventado pelo espelho
Bebendo sede na angústia do depois.

Escudos e escamas de outras redes
Nas águas rasas de minhas lágrimas.
Ensaiei, inutilmente, a morte quase vinte vezes
Em bêbadas manhãs mal-dormidas de domingo.

Até pra morrer é preciso estar vivo!

Leleco.

quinta-feira, junho 09, 2011

Santa Paciência

Tornei a saudade cinza
Para que o amor produzisse o relâmpago.
Tenho um sorriso enfeitado
De dez poemas roubados.

Em mim criei o silêncio
Refletido na distância que mastigo.
E que venha a tempestade
Na palavra sem ser dita.

Se sou o soluço do relógio
É porque vivo deste morrer de espera sem fim.
Oh, Santa Paciência
Rogai por mim!

Leleco.

terça-feira, junho 07, 2011

Vulcão

Enterrei a idéia que ninguém lembra
Nos corredores de minha cabeça.
Acordei sonhando transparências
Antes da cor do meio-dia.

Arrastei o tempo morto
Pelas esquinas onde sou suicida.
Restou esse eco oco de coisa alguma
Em promessas novas de futuro.

Inventei alucinações semiloucas suas
Pra dissolver qualquer vazio da razão.
E o meu corpo ausência implora
Pela sua febre morna de vulcão.

Leleco.