quarta-feira, abril 25, 2012

O que sempre esqueci

De tudo que eu ainda não soube imaginar
Sou o outro além de mim mesmo.
Quase posso morrer agora que sou vivo
E nem parece verdade o que eu digo.

Talvez seja apenas essa certeza nenhuma
Do meu pecado pouco original
Esquecido na maldição da maçã
Enquanto todo mundo se explica demais.

É preciso confiar no confuso
Antes do último aperto do parafuso.
É preciso que eu não esqueça
Aquilo que sempre esqueci.

Leleco.

terça-feira, abril 24, 2012

Hiato

Ontem eu acordei silábico
Ser poeta
É quase um hiato.

Leleco.

quinta-feira, abril 19, 2012

Onde os mortos se escondem

Eu estou aqui e não tenho nada com isso
Verbo Veloso de qualquer Caetano
Escorrendo da boca os seus enganos.

Tabaco tacanho em seus cafés cafetinas
Desejando o coito de Cristo
Em corpos capachos de Deus.

Narcótico amor neurótico
Aprisionado em sua dependência.
As árvores panfletam contra as raízes
Enquanto você culpa o demônio.

Ninguém chora a minha cachaça
Com limão e lágrima.
Onde os mortos se escondem no espelho
Resta apenas o silêncio fosco do que vejo.

Leleco.

sexta-feira, abril 13, 2012

Flor com abelha

Antes que eu me esqueça
Seu coração batia de medo
Daquele velho sonho empoeirado
Abandonado antes do começo do fim.

Havia um novo ontem
No pensamento que não pensa
Atravessando o tempo e a saudade
Da vida que não se vive mais.

O pesadelo de acordar livre
Fez o homem cuspir até o que não queria
E não há revolução maior a cada dia
Que o sorriso de sua filha.

Leleco. (Para Marceleza)

quarta-feira, abril 04, 2012

Macaco Haicai

Tudo em mim mudou
Quando Darwin contou
Que o macaco era o meu avô.

Leleco.

terça-feira, abril 03, 2012

Outono

Todo amor é vago, vesgo, leve e mudo
Como a estranha sede de minhas chuvas.
É que descubro além das curvas
Essa vontade suicida de viver.

Eu sempre perco o que não preciso
Além desse pedaço de silêncio partido.
Nada é tão eterno quanto o próprio inferno
Diante do espelho que inveja o invertido.

A um passo de mim
O Deus de meu pecado é outro.
Amanhã será ontem
No outono daquilo que não fomos.

Leleco.