segunda-feira, agosto 30, 2010

A idade do nunca mais

Na ponta da ponte,
Aponto meus prantos.
Impotente inconsciente
Na dúvida do desencontro.

Traço o que fui
E durmo além da agonia de nascer palavra
No mais imenso dos riscos.
Sete amores amargos
No aroma que anuncia a partida.

Estranhamente, devoro o passado que o diabo amassou
E acordo abraçando as cinco pontas.
Depois dos trinta,
Disfarço a insegurança e o medo
No espelho que revela a idade do nunca mais.

Leleco.

sexta-feira, agosto 20, 2010

Um homem chamado Ninguém

Eu não vou escrever nada
Além do que você já sabe ou deveria.
Eu não uso loção pós-barba
Aliás, eu nem faço mais a barba.
Calculo o amor pela ausência
E cada qual se encontra só em sua suficiência.

Eu não acredito em Deus nem no Diabo
E eles também não devem acreditar em mim.
Duvido quase sempre do que penso
Afinal, existo, logo penso.

Derramo vinho no meu ex-tômago
Armo a bomba!
E tudo queima dentro de mim.
Você ainda quer que eu sorria
E ofereça alegria?

Leia o meu silêncio, finalmente, bem educado
Todo psicólogo é psicologicamente pertubado.
Eu não creio em santos e sábios,
Só confio na palavra simples e pura da puta.
Antes de morrer,
Toda sabedoria é nula.

Respingo verdades quando convém,
Engano o vazio alimentando um bêbado equilíbrio,
Esqueço e sou esquecido pela banalidade coletiva.
Todo mundo diz a mesma coisa:
"Poesia não vale um vintém!"

Leleco.

sexta-feira, agosto 13, 2010

Insetos Incertos

Incansáveis vagalumes de ontem
Por que ainda escurecem minha poesia?
Eu grito percevejos do eco
Diante desse espelho do absurdo.

Aqui, ausente de tudo,
Arrasto o tempo por descuido
E espero alguma esperança
Já que estou face a face com Deus
Vendo que sempre tive razão.

Exijo a urgência da vida
Sufocando a mim mesmo
E desafio qualquer mosquito
A compôr uma sinfonia em meu ouvido.
(Pode ser Bach, pode ser Gonzagão)

Conservo meus pecados
Na falta de pesticida.
Decifro o sorriso dos insetos insanos
E lá se foi mais um ano...

Leleco.

terça-feira, agosto 10, 2010

Invisível

Um vale o outro
Dos quais só um
Abandona o outro lado.
Vinte segundos virado ao avesso
E me torno vários.

Alguém aceita o meu buquê de neurônios?
Ao que tudo indica,
Continuo vivo nesse corpo escorregadio.
Desvio vadio do equilíbrio
Nas quedas que eu não arrisco.

Agora pareço um quadro qualquer de Renoir
No meio desse silêncio branco
Querendo ser tudo e aceitando não ser nada.
Esquecido na poesia não lida de suas virgens filhas
Ah, como eu queria ter escrito a Bíblia...

Leleco.

sexta-feira, agosto 06, 2010

A Mariana que me encanta



Durante toda a minha existência, esperei libertar borboletas no aquário. Hoje é o dia! Hojé é o dia dela! Hoje é o dia M.! Mariana, Margarida, Marga-linda... a invenção da vida carrega consigo uma sutileza em cada sorriso.
Provo, pela contraprova, que o amor produz por si próprio uma vontade infinita de sentidos. O tempo não pára, mas resistir é preciso! Já dançamos em pontas de cigarros, bebemos litros de saudade, construímos pontes e estradas que nos levaram para a cama.
Mariana ama, canta e encanta cada fração do meu dia. É o meu pensamento constante, luxo e lixo de minha poesia. Mariana é a busca incansável e apaixonada do que é ser e que se define justamente pelo encontro da força que escorre do seu olhar.
Depois dela, nada será novo. Arrisco ao máximo a felicidade, abandono tudo o que me dá segurança e mergulho nesse desconhecido. Mariana é o meu novo a cada linha, a cada beijo e a cada simplicidade com que reinventa nosso início a cada manhã.
Então, é tudo contra nada!
Trata-se de uma outra vida, e ela me devolve a velha juventude indestrutível.
Deixai florir espartilhos, aventuras, canções, poesia, casa, estrelas, filhos e migalha.
Afinal, o amor não volta para pedir razão.

Feliz Aniversário, Mariana!
Amo-te completamente!
Daqui até depois do sempre!

Leleco.

terça-feira, agosto 03, 2010

A gosto da leoa


No sete que se completam dezenove,
Nada deve permanecer imóvel.
Outro nome em outros batismos
No teu mar de Agosto.

As sobras do tempo e a vida crua
Deslizando pelo teto empoeirado do Empório.
Entre Marte e Mercúrio,
Mergulho no gim todo o meu orgulho.

O eu do meu bem,
Anjo decaído de uma fé cega
Plantando e implantando
Sorriso em pedra.

Viva nossa geografia
No azul céu do lençól.
Dormindo o amor em meu sonho
No mês do cachorro-louco.

Acordo cantando baixinho:
"Gosto muito de te ver, leãozinho..."

Leleco.