segunda-feira, maio 31, 2010

Constelação

Anoiteceu
E nenhum Ogum apareceu.
Rodam raios e nada arrisca
Aquele homem artista.

Diamantes e rubis
No carnaval do Arlequim.
O silêncio do não ser
Na gritaria em mim.

Deus é tão ateu quanto eu
Quando bebe o tempo lentamente
E mata na garganta
A melancolia de qualquer poesia.

Cantigas de ninar
Antes que o futuro
Não se deixe mais amar.
Sombras de sim
No céu de tanto não.

Herdei da vida essa tal constelação.

Leleco.

sexta-feira, maio 28, 2010

Privada



Acordei tarde demais
Pra sentir quem eu fui.
Afogado na ressaca dos que bebem
A solidão das paredes.

Aquele que recolhe almas
Também desmaia estrelas pelo escuro
Do cinza em que me deito
Na infinita tinta do muro.

Um frio fino rasga o meu torto sorriso
Tudo é colorido e misturado com álcool.
Depois e antes
A privada se tornou a minha amante.

Leleco.

quarta-feira, maio 26, 2010

A saudade é um ovo mexido (mini-poema de amor)

Agora eu existo
No verso mastigado de nenhum artista.
Alguém gira a minha vida
E tudo parece
Ovo mexido e poesia.

Da esquerda para a direita,
O relógio marca o nascimento e o fim.
Antiga repetição monótona
Da saudade em mim.

O amor feito de tempo
Atravessa o espaço até você.
Entre e além da cama
Permaneço devorando o tédio da semana.

Leleco.

sexta-feira, maio 21, 2010

Emotional Hardcore


Nada nos livros
Ou em lugar nenhum.
Tudo agora é mentira!
Afinal, o que devo entender por verdade?

Na hora certa,
Deus não suportará o silêncio dos poetas.
É melhor assim!
E que horas são?

Quanto mais eu corro risco,
Mais me afasto do perigo.
Quem se importa
Se a imbecilidade tornou-se moda?
Esqueça as minhas paranóias
E enfie no cú essa nova Geração Coca-Cola!

Leleco.

terça-feira, maio 18, 2010

Eu-líquido

A chuva nasceu no meu quintal
E molha o meu coração suburbano.
O medo treme de frio
Do amor que afogou o meu Rio.

Os retratos voltaram a sorrir
Enquanto a goteira
Pinga beijos em minha boca,
Gastando o meu silêncio
E moldando o seu corpo.

Lavei e limpei a alma
Nas águas que espalham outras águas.
A solidão escorre pelo ralo
Junto com a sujeira que navega pelo asfalto.

"Nadando contra a corrente
Só pra exercitar?"
Cazuza não sabia que nandando contra
A gente pode se encontrar.

L.Eco

domingo, maio 16, 2010

Nem tão santa é a minha Teresa

Comecei a me arrancar
E tudo que cai não é mais antigo.
Guardo em mim essa nova flor
Crescendo em nossos netos, meu amor.

Aluguei a felicidade só pra você
Hidratar o meu coração,
Sorrindo sua tímida tinta dos lábios
E a palavra sem ser dita.

Como se algo pudesse ser dito
Além dos olhos de cachaça, chopp e choro.
Vamos vivendo assim
Entre a ausência e o que há de vir.

E descemos as nuvens de concreto
Pendurados no cometa...

Leandro ou Leleco.

sexta-feira, maio 14, 2010

Na moldura (Para Leleco)


Qual é o gosto do gostoso?
Onde a sede e a fome se tornam banquete?
Invento as loucuras mais incertas
No vazio de mim.
O céu se lança ao mar desnudo
Tudo é tempo, templo, túmulo.

São os minutos moleques
Acelerando os ponteiros
Na moldura dos meus trinta e um.
O que ainda faz parte do que restou?

O silêncio de um domingo no ouvido?
O medo lento do meu nada?
Ou a dança do átomo?
Agora e na hora exata
Esse mesmo intenso imaginar.

Sempre quero mais!
Onde estou que não me encontro
Na voz do eco
Sagrado e profano
Chamado Leleco?

Leandro.

domingo, maio 09, 2010

602 só a dois

Eu sou a alegria dilatada,
O amor e seu inverso.
Esparramado na cama
Devorado pelo sexo.

Acende o desejo
E apaga o medo.
Tudo o que a gente quis
E você repetindo: "- Lê, só se vive por um triz!"

Suor e sangue entre nós
Exatamente virginais.
O sorriso e o gemido acordando o Catete
Ah, eu te amo muito pra cacete!

Leleco.

domingo, maio 02, 2010

Um dia em Guaratiba (Para Mariana)


Eu e Ela
Vivemos de brisa,
Ardemos em brasa esse amor.
A luz nos olhos,
Olhos em mim.
A sede da saliva e cerveja
Na minha boca
Dizendo que sim mais tarde
E isso ainda não é nem a metade.

Nesse aquário,
Todo mar é nosso!
Você me jura a felicidade
Na canção ao meu ouvido
Fecho os olhos e desafio o infinito.

Cutuco o gato
E atravesso o dia
Pensando na foto, na família
Na Pedrita e no Pier.

E já é quase madrugada em Pedra de Guaratiba.

Leleco.