quinta-feira, abril 28, 2011

Caleidoscópio



Quem sabe alguém me espere
Entre teus cabelos soltos,
No silêncio bíblico da heresia
Ou quando eu não mais existir.

Quem sabe alguém me encontre
No teu vestido de noiva,
Na neblina mofada da noite
Ou quando eu não mais resistir.

Quem sabe alguém me esqueça
Na solidão de cada existência,
Na culpa do que não fomos
Ou quando eu não mais fingir.

Quem sabe você me volte
No casulo de teus abraços,
No caleidoscópio assimétrico do nosso amor
Ou quando eu não mais desistir.

Leleco.

* Foto: Débora Furtado/ Paris, 2011.

terça-feira, abril 26, 2011

Âncora

Após muito lhe esperar,
Eu era a própria falta
Da memória onde eu não lembrava.
Depois, deixei além
Aquele ontem confuso.

Algo de nós permanece no chão do tempo
Quem sabe seja eu esse mar sem nuvens
Enrolado em seus braços.

Aqueço aquilo que sonhamos
Nos passos que voltam sós.
O céu sobe a minha saudade
E a chuva imagina a nova causa.

Leleco.

segunda-feira, abril 18, 2011

Véspera

Hoje é véspera de mim
E eu com essa cara de anteontem
Cuspindo a baba histérica do delírio
De nenhuma loucura.

Haja Deus e tantos Saturnos
Pra esse pobre coração soturno.
Não há tempo a perder
Quando é tempo de se perder.

Eu sou a orgia exagerada
Que molha a sua calcinha
Com medo de se afogar.
O vento vinha vinho em mim
E acordo ao seu lado
Embrulhado em plástico-bolha.

Beber e soluçar ressacas
Antes do fim do dia
Enquanto enrolo minha vida
No sabor menta de sua língua.

Leleco.

sexta-feira, abril 08, 2011

Abeille

Ah, essa velha abelha
No meu calcanhar.
Despetalando dúvidas
E divorciando saudade.

Eu mudo.
Eu me mudo.
Por debaixo das palavras,
Isso seria quase nada
Se não fosse quase tudo.

Aqui ausente de ti
É uma loucura tão infame
Desafiar o futuro soprando incertezas.

Abeille, je t'aime!

Leleco.

Fagulha




Inventei uma palavra oleosa
Para não escorregar
Nos olhos líquidos
Das vidraças míopes.

E você precisou sumir
E foi.
Por dentro a vida envelheceu
E não era o último dia do mundo.

Tudo acabou ficando úmido
No verso do silêncio
Enquanto minha insônia
Sonha com amor nenhum.

Ante o que fui,
Descubro o que sol
Apagado num sorriso quase febril,
Observo a alma secar no varal.

"Come on baby, light my fire..."

Leleco.